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Entenda como a nova crise do 737 Max, da Boeing, afeta a brasileira Gol

Companhia aérea é a única no País a usar o modelo, no qual aposta fortemente para reduzir custos; em nota, Gol disse que novo problema afeta apenas uma aeronave da companhia, que teve voos suspensos

Por Juliana Estigarríbia
Atualização:

A Boeing informou nesta sexta-feira, 9, sobre a ocorrência de um novo problema elétrico em um grupo específico de aeronaves 737 Max. Além do desafio adicional para a fabricante norte-americana, que ainda luta para superar acidentes aéreos envolvendo a família de aviões, o anúncio gera impacto sobre a Gol, que aposta fortemente no 737 Max para o futuro. 

A Boeing recomendou a 16 clientes ao redor do mundo que verifiquem um possível problema elétrico antes de prosseguir com a operação. A recomendação consiste em checar "se existe espaço de aterramento suficiente para um componente do sistema elétrico".

A aérea diz estar em contato com a Boeing, aguardando instruções para a resolução do problema Foto: Leonardo Augusto/Estadão

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A fabricante não informou quais são esses clientes, mas a Gol é a aérea que mais opera 737 Max no Brasil, com sete unidades. Em nota, a brasileira informou que o problema afeta apenas uma aeronave da frota da companhia. "Seguindo os princípios de segurança que regem a nossa companhia, decidimos realizar proativamente a suspensão dos voos desta aeronave", disse a Gol, em nota. 

A aérea diz estar em contato com a Boeing, aguardando instruções para a resolução do problema, e que "somente retornará a aeronave afetada para o serviço após a certeza de que todas as ações corretivas tenham sido aplicadas e validadas pela fabricante, sempre em coordenação com as autoridades dos Estados Unidos e a Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC)."

A manifestação da Gol parece ter acalmado os investidores. As preferenciais da companhia, que chegaram a cair quase 3%, logo na abertura, já subiam mais de 1% por volta das 13h30 desta sexta-feira.

Impacto deve de curto prazo, diz analista

O analista da Guide Investimentos, Henrique Esteter, pondera que o impacto para a Gol deve se restringir ao curto prazo, especialmente se o problema afeta um número reduzido de aeronaves da frota. Além disso, o cenário de pandemia e a queda drástica da demanda também acabam tornando a parada de operação para reparos "propícia".

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"As companhias aéreas têm hoje uma capacidade ociosa grande, e se há um momento que esse reparo poderia acontecer é agora, pois o prejuízo tende a ser reduzido."

Apesar do impacto aparentemente restrito à Gol, o novo problema da Boeing pode afetar a confiança do mercado (e dos passageiros) para voar em aeronaves da família 737. Ao final de dezembro de 2020, a Gol informou em balanço financeiro que possuía 95 pedidos firmes para aquisição de aeronaves 737 Max. No documento, a companhia afirmou que "o 737 MAX proporciona à Gol vantagens substanciais".

Crise de confiança?

De acordo com o presidente da Comissão de Direito Aeronáutico da Ordem dos Advogados do Brasil ¬– seção São Paulo (OAB-SP), Felipe Bonsenso, os acidentes envolvendo o 737 colocam um holofote permanente na família de aeronaves. "Qualquer problema acaba virando uma questão muito maior para esses aviões."

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Segundo Bonsenso, ajustes em aviões são comuns. Entretanto, problemas recorrentes causam outro tipo de desafio. "Problemas recorrentes afetam a confiança do passageiro e as companhias aéreas podem até acabar desistindo de comprar o 737 MAX", afirma o especialista.

Por outro lado, em meio à pandemia e à profunda crise econômica que as companhias aéreas enfrentam, um novo problema com as aeronaves da Boeing pode ser uma forma de clientes como a Gol negociarem preços com a fabricante, de acordo com uma fonte do setor, que prefere não se identificar. "A Gol tem agora um novo argumento para renegociar termos dos contratos do 737", explica. 

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