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Entenda o risco país

O indicador mede a confiança dos investidores quanto à capacidade de um país em honrar seus compromissos externos. Entenda o conceito, como ele é calculado e por que tem tido tanto destaque no noticiário relativo à Argentina.

Por Agencia Estado
Atualização:

Em tempos de crise, é comum alguns termos técnicos do economês aparecerem na mídia e se tornarem familiares à opinião pública. É o que está acontecendo atualmente com a expressão "risco país". Com o agravamento da crise argentina, quem acompanha o noticiário econômico tem encontrado cada vez mais referências ao conceito. Jornais e revistas comentam as altas da taxa de risco país da Argentina, que tem atingido níveis recorde. E o leitor muitas vezes se pergunta o que isso significa. Por trás do conceito, existe um princípio simples. Quanto maior for a incerteza ou risco associado a uma aplicação financeira, maior será a taxa de juros exigida pelo investidor. Se duas aplicações financeiras com riscos diferentes oferecerem o mesmo retorno (a mesma taxa de juros), é natural que os investidores coloquem todos os seus recursos na aplicação menos arriscada. Para captar recursos, a aplicação de maior risco terá que oferecer uma taxa mais elevada como forma de incentivo ao investidor - ou "prêmio de risco". Esse princípio aplica-se à captação de recursos pelos países. Os governos costumam captar recursos no mercado por meio da emissão de títulos da dívida externa. Um investidor só decidirá aplicar em títulos de um país se os juros pagos por esses títulos compensarem o risco de inadimplência associado a esse país. Caso contrário, o investidor preferirá destinar seus recursos a aplicação mais segura, por exemplo títulos do tesouro norte-americano, cujo risco de inadimplência é considerado nulo pelo mercado. Assim, o risco país é uma medida do diferencial de juros que o governo de um país tem de pagar para conseguir colocar seus títulos de longo prazo no mercado em relação aos juros norte-americanos. Em termos genéricos, se um país paga uma taxa de 14% ao ano em seus títulos de longo prazo e os juros anuais dos títulos americanos de 30 anos são de 4%, o risco país equivale a 10 pontos porcentuais, que é a diferença entre as taxas. Normalmente o mercado acompanha essa taxa em "pontos base", ou simplesmente pontos, o que equivale a multiplicar por 100 o prêmio expresso em porcentual. No exemplo, o risco país calculado seria de 1000 pontos. O principal indicador utilizado pelo mercado para acompanhar o risco país é índice EMBI+, sigla em inglês que significa "Emerging Markets Bond Index Plus". Trata-se de um índice calculado pelo banco J.P.Morgan, que acompanha as taxas pagas por uma cesta de títulos da dívida externa para vários países emergentes. Normalmente, quando o mercado fala na taxa de risco país da Argentina, está se referindo a este indicador do J.P.Morgan. Indiretamente, o risco país funciona como uma medida da confiança do mercado na capacidade do país de honrar seus compromissos externos. Quanto maior a probabilidade de calote que o mercado atribui a esse país, maior o risco país. Assim, quando o indicador argentino sobe, ele dá uma sinalização numérica da desconfiança crescente do mercado.

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