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Entraves ao crescimento

Por É PESQUISADOR DA ÁREA DE ECONOMIA APLICADA DO IBRE/FGV
Atualização:

Análise: José Júlio SennaA longo prazo, crescimento econômico é um problema de oferta. Economias que se destacam conseguem ampliar sua capacidade produtiva de maneira acelerada e sustentável. Para isso, as políticas públicas têm de dar incentivos corretos aos agentes econômicos - estimular a acumulação de capital (físico e humano) e a atualização tecnológica. A curto prazo, há também as questões de demanda, hoje relativamente escassa em vários países, que não conseguem crescer em ritmo satisfatório. Apesar de funcionarem em épocas normais, estímulos à demanda podem não gerar o desempenho desejado, especialmente na esteira de crises financeiras profundas. Entre nós, experimentamos os dois tipos de problema. Do lado da procura, o consumo não se mostra ruim (3,1%, ao ano). Os investimentos das empresas, porém, seguem encolhidos, e recuaram 4% em 2012. No lado da oferta, fala-se muito da indústria, cujo PIB chegou a subir mais de 10% ao ano em meados de 2010 e agora tem queda (em quatro trimestres) desde o segundo trimestre de 2012. No ano, o recuo foi de 0,8%. Mas o setor de serviços também perde gás. Em 2012 cresceu só 1,7% ao ano, bem menos que os quase 6% de meados de 2010. O problema não é localizado como se imagina. O consumo de bens industriais expande-se em ritmo satisfatório. Mas a produção não acompanha, pois deixou de ser competitiva. Já o setor de serviços cresceu pela incorporação de mão de obra antes desocupada, mas dependerá de ganhos de produtividade. Ou seja: a fase "fácil" ficou para trás. A teoria e a prática permitem algumas conclusões. Primeiro, a estratégia em curso não está dando resultado. Não adianta insistir em estimular o consumo. As famílias ampliam seus gastos porque confiam nas boas condições do mercado de trabalho. Desonerações tributárias e medidas semelhantes, porém, apenas redistribuem as despesas no tempo, sendo claras também as limitações à ampliação do crédito.Segundo, os entraves à oferta precisam ser eliminados: carga tributária pesada, excesso de impostos (alguns de má qualidade), burocracia asfixiante, infraestrutura precária. Isso inibe a mobilização de recursos para fins produtivos, particularmente os investimentos. Terceiro, é necessário menor grau de intervenção governamental. As regras são muito instáveis, o que traz insegurança e dificulta o cálculo econômico. Por fim, não existe efeito sem causa. Os dias de divulgação dos resultados das contas nacionais só se transformarão em celebração quando os verdadeiros entraves ao crescimento forem efetivamente afastados, com a vantagem de podermos ter resultados bons e sustentáveis.

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