Publicidade

ENTREVISTA-Bioeletricidade renderá mais que açúcar no futuro

Por ROBERTO SAMORA
Atualização:

A bioeletricidade deverá garantir, no futuro, uma parcela no faturamento das usinas de cana maior até do que a do açúcar, mas antes o setor terá de superar obstáculos, alguns deles relacionados ao preço pago pelo megawatt hora (MWh) nos leilões do governo. "Hoje a bioeletricidade representa pouco do faturamento. Mas entendemos que no médio e longo prazos deverá ser mais importante que o açúcar. Ou seja, o principal produto será o álcool e o segundo será a eletricidade", afirmou o presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-Açúcar), Marcos Jank. Em entrevista à Reuters no intervalo de um seminário em São Paulo, ele disse ainda que o setor, assim, será mais energético do que alimentar, embora isso dependa também de questões como a abertura do mercado mundial de álcool, da harmonização dos tributos do combustível entre Estados, que provoca distorções no mercado interno, e de um programa de bioeletricidade. O primeiro passo para o desenvolvimento da energia elétrica de biomassa, destacou o executivo da associação das usinas do centro-sul do Brasil, seria dado com a realização de um leilão no começo do ano que vem voltado especificamente para a comercialização de bioenergia, gerada por meio da queima do bagaço da cana e da palha. "Estamos estudando com o governo mecanismos que façam com que as usinas antigas, onde está a maior parte da cana, tenham remuneração adequada em um grande leilão, que seria feito no ano que vem, após o Carnaval, exclusivamente para a bioenergia", disse Jank. O presidente da Unica afirmou ainda que para a "bioeletricidade sair em grande volume no leilão do ano que vem" vão ser necessárias "medidas concretas e urgentes". Nos leilões deste ano, segundo ele, o preço não atraiu as usinas. Por meio dos leilões, o governo garante a oferta de energia para o futuro, uma vez que as distribuidoras realizam negócios com as fontes geradoras. "Teríamos condições de entrar em um leilão que ofertasse pelo menos 3 mil MW a partir de 2010", o equivalente a uma das usinas do rio Madeira, que deve começar a funcionar em 2013. MECANIZAÇÃO No último leilão, o preço médio da energia térmica fechou em 128,37 reais por MWh, valor que é considerado baixo pela Unica, que diz que as alternativas termelétricas (carvão e óleo combustível) têm um custo para a sociedade superior a 200 reais por MWh, computados aí as emissões de dióxido de carbono. "Para quem está expandindo ou quem está construindo novas usinas, esse pessoal, com grandes caldeiras, entra no leilão e aí tem um bom retorno", acrescentou Jank, lembrando que muitos empresários agora estão montando as suas operações baseadas apenas na produção de álcool e geração de energia. "Mas para o pessoal das (usinas) mais antigas, em ano de preços do álcool e do açúcar ruins, considerando que as empresas vão ter que fazer adaptações, então nesse momento não se viabiliza (a participação nos leilões)." A energia de biomassa, especificamente a de subprodutos da cana, é tida por especialistas como importante complemento de outras fontes, como a hidrelétrica, uma vez que a safra ocorre justamente no período em que os reservatórios estão baixos. A Unica prevê ganhos com a bioeletricidade em um momento que cada vez mais se intensifica a colheita mecanizada no centro-sul brasileiro, que vai resultar em maior volume de matéria-prima para ser queimada nas caldeiras. A colheita mecanizada, que deve passar de 41 para 48 por cento da área de cana em São Paulo na próxima safra, permite que as usinas utilizem a palha nas caldeiras. Na colheita manual, essa parte da cana é queimada para facilitar o corte. Além do preço, a Unica espera ver resolvidos problemas como a morosidade na liberação das licenças para que as usinas possam vender energia, além de questões relacionadas às linhas de transmissão entre as usinas a as subestações, ainda deficitárias. "Nenhuma empresa vai entrar no leilão se não tiver segurança que as coisas vão acontecer", completou Jank. (Edição de Marcelo Teixeira)

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.