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ENTREVISTA-Hong Kong quer ampliar comércio com o Brasil

Por ANGUS MACSWAN
Atualização:

Os empresários brasileiros deveriam usar Hong Kong como portal para seus negócios com a China, tirando vantagem da relação especial e da experiência que este território tem em relação à nova potência mundial, disse um dirigente comercial de Hong Kong na segunda-feira. Alan Wong, diretor-adjunto do Conselho de Desenvolvimento Comercial de Hong Kong, disse também que o território pretende ampliar o seu próprio comércio com o Brasil. Falando em São Paulo na última etapa de uma viagem que o levou também ao Chile e à Argentina, Wong disse que Hong Kong tem condições de promover uma forte expansão comercial, depois de passar anos dando as costas para a América Latina. "Sentimos que a atmosfera mudou. Vários países latino-americanos estão novamente desfrutando de um crescimento bastante estável. As condições parecem estar corretas", afirmou ele à Reuters. Na opinião dele, as empresas brasileiras poderiam usar o status especial de Hong Kong dentro da China e sua falta de tarifas e impostos para obter um acesso mais fácil ao mercado chinês. "É realmente inevitável olhar para a China. É o mercado em desenvolvimento com o mais rico potencial do mundo. Convidamos as companhias brasileiras a olharem para Hong Kong como entrada para o mercado chinês", disse. O território era colônia britânica até 1997, quando voltou ao domínio chinês, na forma de uma zona administrativa especial, sob o lema "um país, dois sistemas", o que manteve o sistema democrático e capitalista por lá. A experiência de Hong Kong em fazer negócios com a China é outro ponto destacado por Wong. "A China não é um mercado fácil. Não é nem um mercado, são vários. Seus regulamentos são complicados. Os pagamentos são difíceis, há controles cambiais, todo esse tipo de coisa. Você tem de saber com quem está lidando." O comércio direto entre Brasil e China cresceu expressivamente nos últimos anos, graças à prosperidade nos dois países. O setor agrícola brasileiro foi especialmente beneficiado pelo aumento da demanda por alimentos na China. Os dois integram o grupo de grandes países emergentes batizado com a sigla Bric, junto com Rússia e Índia. Nos quatro primeiros meses deste ano, o comércio entre Brasil e China atingiu 8,9 bilhões de dólares, segundo cifras brasileiras. Já com Hong Kong o comércio bilateral, bastante equilibrado, fechou 2007 em 2,7 bilhões de dólares, e os primeiros meses deste ano indicam um aumento de 20 por cento. "Não é uma cifra ruim. Se a economia se mantiver, não ficaria surpreso se víssemos 20 por cento ao longo dos próximos cinco anos", disse o dirigente. O Brasil importa de Hong Kong principalmente produtos eletrônicos, roupas, relógios e jóias. Wong disse que o setor de serviços, como a construção civil, poderia entrar com mais força. O território, por sua vez, gostaria de comprar mais carne, couro, peixe e calçados. Wong disse que o Brasil ainda tem regulamentos que impedem um comércio completamente livre. "Mas cada país tem sua própria situação de desenvolvimento econômico. Nem todo país pode se comportar como Hong Kong, sem tarifas, sem impostos, pouquíssimas taxas de importação", comentou. Ele disse que em março Hong Kong eliminou as tarifas sobre a importação de bebidas alcoólicas, para alegria dos vinicultores da Argentina e do Chile. "Tinha gente fazendo fila para visitar os nossos delegados", contou. O mercado do vinho na Ásia deve crescer cerca de 30 por cento ao ano nos próximos anos. Como zona franca, Hong Kong deve se tornar um centro regional de distribuição.

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