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ENTREVISTA-Portugal, do FMI, vê A. Latina menos vulnerável

Por MICHAEL CHRISTIE
Atualização:

Uma crise econômica global pode afetar a América Latina com mais força que outras regiões, mas alguns países latino-americanos estão mais resistentes a choques externos do que no passado, disse o brasileiro Murilo Portugal, subdiretor-gerente do Fundo Monetário Internacional, em entrevista à Reuters na quinta-feira. "A desaceleração da economia global vai afetar a todos, vai afetar talvez mais a região latino-americana, e dentro da América Latina os países que têm maior ligação com os Estados Unidos", disse Portugal. "Mas, dito isto, vários desses países estão atualmente numa posição muito melhor para resistir à turbulência do que estavam nos últimos anos, por causa de melhorias que conseguiram em sua situação macroeconômica, em seu desempenho. Então estão mais resistentes do que em episódios anteriores." Portugal, que na sexta-feira embarca para pequenos Estados insulares do leste do Caribe, não especificou os países que estariam mais bem preparados. Ele disse que sua viagem reflete os esforços do Fundo Monetário Internacional em ampliar a "vigilância regional", e que possivelmente irá discutir os desafios que as ilhas caribenhas enfrentam por causa dos últimos acontecimentos globais. Anguila, Antígua e Barbada, Dominica, Granada, Montserrat, São Cristóvão e Névis, Santa Lúcia e São Vicente e Granadinas (os integrantes do chamado Banco Central do Caribe Oriental) dependem muito do turismo, especialmente desde o fim do tratamento preferencial dado pela União Européia à banana e ao açúcar desses países e possessões. O turismo, responsável por 60 por cento das divisas que entram no leste do Caribe, deve ser bastante afetado pela desaceleração econômica dos EUA e de outras economias, segundo Portugal. Por causa da crise econômica global, mas também devido ao fim de fatores locais, como a construção de um estádio de críquete e reformas de hotéis antes da Copa do Mundo de Críquete, em 2007, o FMI reduziu suas projeções de crescimento para o Caribe. Para 2008, a previsão de crescimento médio na região é de 3,3 por cento, abaixo dos 4,1 por cento de 2007 e dos 5,9 por cento de 2006, segundo o brasileiro. Os fluxos de investimentos estrangeiros diretos, usados por muitos países para financiar seus déficits públicos, também devem ser afetados pela crise global, segundo ele. A exemplo de outros países em desenvolvimento, os pequenos Estados insulares teriam de ter maior responsabilidade fiscal para reduzir seu endividamento e seus déficits, a fim de superar este período de desaceleração mundial, na opinião do executivo do FMI. Deveriam também, segundo ele, acelerar e aprofundar o processo de integração regional. Os serviços financeiros, que já são um setor importante em vários países do Caribe, representam uma opção para substituir a banana, o açúcar e o turismo por atividades mais estáveis, disse Portugal. "Mas de certa forma a turbulência financeira também tem aspectos positivos e negativos", afirmou. "Um aspecto é que, como o dólar do Caribe está atrelado ao dólar norte-americano, ele também está se desvalorizando em termos reais, e isso está ampliando a competitividade e suas exportações", afirmou.

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