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Época de elevados saldos na balança ficou para trás

Projeção do relatório Focus do Banco Central aponta superávit comercial de US$ 2 bilhões, mas déficit não está descartado

Por LUIZ GUILHERME GERBELLI
Atualização:

O comércio exterior brasileiro está diante de uma nova realidade. Os superávits comerciais elevados e frequentes até 2012 não devem se repetir, pelo menos no curto prazo. A previsão para este ano é de que a exportação supere por pouco a importação - um déficit também não está descartado. No relatório Focus, do Banco Central, que colhe a opinião dos economistas, a projeção é de um superávit de US$ 2 bilhões em 2014. Nos últimos anos, a economia brasileira registrou elevados superávits comerciais devido a uma conjuntura de fatores positivos. O crescimento econômico mundial impulsionou os preços das commodities e a indústria brasileira ainda tinha algum espaço para competir no mundo, sobretudo na América Latina, o que permitia a venda de produtos manufaturados. Em 2006, as exportações brasileiras superaram as importações em US$ 46 bilhões. O cenário atual é o oposto dessa época de ouro. A dificuldade se arrasta desde 2013, quando o Brasil registrou superávit de apenas US$ 2,5 bilhões, o menor em 13 anos. Atualmente, tanto as exportações de básicos como de manufaturados estão em queda. Os números da balança comercial compilados pela Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) mostram que a venda de produtos básicos ao exterior somou US$ 93,9 bilhões entre janeiro e outubro, 1,2% a menos do que no mesmo período do ano passado. No caso dos manufaturados, a exportação soma US$ 67,3 bilhões no mesmo período, uma queda de 10,7% ante 2013. Efeito China. O cenário se torna ainda mais adverso por não haver sinal claro de retomada consistente na economia mundial. Para 2015, a previsão do Boletim Focus é de R$ 7,24 bilhões de superávit. "Os ganhos de preços que o País teve até 2012 não são factíveis daqui para frente", diz Daiane Santos, economista da Funcex. Em relação aos produtos básicos, o que tem levado à queda nos preços é o menor crescimento dos países asiáticos, sobretudo da China. Com o crescimento mais lento, a demanda mundial por commodities diminui, e os preços dos produtos caem - o Brasil tem quase metade da pauta de exportação dependente de produtos básicos. "O que temos observado é que as exportações de alguns produtos que vinham se destacando na pauta brasileira estão sofrendo forte impacto por causa da queda de preços, como é o caso da soja, suco de laranja, minério de ferro. O petróleo também está com queda de preço", diz Fábio Faria, vice-presidente executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB). Nos produtos manufaturados, a exportação está menor por dois grandes motivos. Primeiro, a indústria brasileira ficou pouco competitiva desde a última crise internacional e perdeu espaço em diversas economias, especialmente na América Latina. Segundo, a atual crise da Argentina - principal compradora de produtos industriais do Brasil - também tem inibido a venda de produtos ao país vizinho. De janeiro a outubro, a média diária da exportação de produtos brasileiros para a Argentina diminuiu 26,8%. "A queda das manufaturas em produtos industriais é crescente. Sem melhorar o desempenho da manufatura, é difícil o Brasil voltar a produzir os grandes superávits", diz Lia Valls Pereira, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV). A indústria brasileira tem se queixado do câmbio valorizado - embora o real tenha se desvalorizado nos últimos meses -, da infraestrutura ruim e do chamado custo Brasil. Os dados de outubro, divulgados na semana passada, reforçaram o momento ruim da balança comercial. As exportações recuaram 19,7% em relação ao mesmo mês do ano passado. O resultado só não tem sido pior porque o País tem importado menos, por causa da menor atividade econômica. No mês passado, as compras das empresas brasileiras diminuíram 15,4%. No ano, a balança comercial acumula déficit de US$ 1,871 bilhão.

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