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Economista e advogada

Opinião|Erro de manter a Infraero nas mãos do Estado persiste mesmo após três governos

Quem sabe um dia os viajantes e turistas neste País terão o respeito que merecem - e não será com a Infraero nas mãos do governo

Atualização:

Os leilões de aeroportos estão chegando ao fim. A 7.ª rodada está prevista para abril de 2022, tendo Congonhas e Santos Dumont como vedetes. São os mais rentáveis da carteira de ativos da Infraero, que se tornará uma casca vazia com mais de 4 mil funcionários.

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O processo, que começou no governo Dilma, atravessou Temer e aterrissou em Bolsonaro, ainda carrega problemas de origem.

Nas rodadas iniciais, entre 2011 e 2013, havia uma euforia com os preços pagos pelos ativos. Os ágios chegaram a superar 300%. Nessa época, o Brasil decolava nas capas da The Economist e a Copa do Mundo prometia um fluxo extraordinário de passageiros.

O tempo mostrou que eram projetos com obras de infraestrutura superdimensionadas em benefício maior para as empreiteiras do que para os usuários. O Galeão é o melhor exemplo. É a velha estratégia de apostar em um aditivo pelo meio do caminho e garantir o lance irreal do leilão.

Apesar de muitas idas e vindas ao longo de três governos, o erro de manter a Infraero nas mãos do Estado persiste.

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Como tantas outras, a Infraero é mais uma estatal em busca de uma razão para existir. Foto: Evelson de Freitas/Estadão

No início do processo, tiveram a brilhante ideia de exigir que a Infraero mantivesse uma participação de 49% nos novos consórcios.

Previsivelmente, afundou a empresa, que não tinha como acompanhar os pesados investimentos previstos para melhoria de infraestrutura aeroportuária. Boa parte da superestimativa, tanto no lance pelo ativo quanto nas obras, caiu no colo da estatal.

Com o governo Temer, surgiu a ideia de transformá-la em uma administradora de aeroportos regionais. Foi inviabilizada pela decisão de vender concessões de menor porte em blocos.

Foi então que se cogitou sua privatização. Mas era necessário transferir o controle do tráfego aéreo, monopólio da União, sob sua responsabilidade para uma estatal e liberar sua venda ao setor privado. Para isso, já com Bolsonaro, foi criada a NAV, que absorveu 1.600 de seus funcionários.

Tarcísio de Freitas, elemento comum aos três governos, é agarrado nas suas estatais. Não quer nem ouvir falar em vender EPL, Valec ou Infraero. A NAV só serviu para engordar a lista de estatais. Guedes prefere prometer a venda da Petrobras para 2031 do que enfrentar seu colega.

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A concessão de aeroportos deveria ter também o objetivo de melhorar o atendimento aos usuários, afinal, trata-se de um serviço público delegado. Não aconteceu, e a Infraero tem culpa no cartório.

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No Galeão, os passageiros são desembarcados nos últimos fingers, mesmo com vários vazios. Eles têm de cumprir meia maratona até a saída, apenas para servir de estatística para vender outdoor à espera de um anunciante.

Recentemente, passei por Guarulhos. A conexão foi um inferno. Uma sinalização confusa, em meio a tapumes, torna a busca do seu terminal uma gincana. Depois é preciso enfrentar o péssimo atendimento de companhia aérea, no meu caso, a Latam.

Com ares de modernização, exige a impressão (ou mesmo reimpressão) de cartão de embarque em seus terminais eletrônicos. A aglomeração e a angústia dos pouco habituados com a digitalização eram desoladoras.

Vários perderam seus voos. Outros ainda entraram em nova fila para chegar em guichês, agora com um ser humano atendendo. Tinham de reemitir o cartão (!) para despachar a bagagem.

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Um funcionário anunciava “voo para Fortaleza encerrado”, “voo para Manaus encerrado”. Nem ligava para os atrasados, involuntários, que gritavam aflitos em uma fila interminável. Um casal alemão reconheceu o nome “Fortaleza” e começou a gesticular em desespero. Não há anúncios em inglês. Turistas teimam em vir para cá, ainda que em números ridiculamente baixos para nosso potencial.

Os aeroportos estão virando grandes rodoviárias. Muitos acham que piorou. Discordo. Piorou, porque melhorou. Está mais acessível a classes de renda mais baixa e mais democrático. O que é muito bom. E é positivo para as operadoras, mas, com as receitas, o trabalho aumenta. Não adiantam pisos de mármore, se o serviço é ruim.

A prioridade do ministro do Turismo é tocar sanfona, e mal. Quem sabe um dia os viajantes e turistas neste País terão o respeito que merecem. E não será com a Infraero nas mãos do governo. Como tantas outras, é mais uma estatal em busca de uma razão para existir. Não há.

*CONOMISTA E ADVOGADA