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Esforço fiscal francês contra efeitos da crise triplicou déficit

Por Andrei Netto e PARIS
Atualização:

O esforço fiscal para relançar a economia e evitar uma recessão ainda maior custou caro à França. De acordo com balanço divulgado pelo Ministério do Orçamento ontem, em Paris, o déficit orçamentário quase triplicou em um ano, passando de ? 32,8 bilhões, em junho de 2008, para ? 86,6 bilhões, 12 meses depois. O rombo nas contas públicas teria sido causado pela crise na União Europeia. Sem as medidas de socorro ao sistema financeiro e sem a redução da arrecadação, o déficit teria sido reduzido em ? 400 milhões. As contas foram reveladas no fim da manhã de ontem, em Bercy, sede do ministério. Até junho de 2009, a França enfrentou um rombo de ? 25,1 bilhões causado pelo efeito, direto ou indireto, de medidas emergenciais de suporte à economia. Ao total se somam ? 35,6 bilhões de queda na arrecadação - ou 24% do total em um ano. Segundo o balanço do Ministério do Orçamento, o único dado positivo é que o pico do déficit, aparentemente, já passou: em maio, o déficit era de ? 88,7 bilhões. "Há um déficit nascido da crise que, entre queda de receitas e despesas de relançamento, representa cerca de 60% do déficit total do Estado", diz o ministro do Orçamento, Eric Woerth. "Nossa prioridade será reembolsá-lo tão logo o crescimento retorne." Passados os dois primeiros trimestres do ano, analistas europeus já veem os primeiros sinais de recuperação econômica no bloco. Na França, segundo maior mercado da União Europeia, atrás da Alemanha, a produção industrial se manteve no azul pelo segundo mês seguido, com 0,4% de crescimento - embora em queda de 16,4% ante 2008. A produção de automóveis cresceu 5,3% no mês, após 12,2% de alta em maio. Também as indústrias farmacêutica, aeronáutica, naval e ferroviária, parte da base da economia francesa, apresentaram crescimento. "Há um ou dois trimestres o ritmo de decrescimento da economia diminuiu. No início do ano, caíamos 5%. Agora, caímos de 1% a 1,5%. Há uma desaceleração da queda", diz Élie Cohen, economista e diretor de pesquisas do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), descartando a retomada imediata do crescimento. "Há sinais positivos incontestáveis, mas 2009, do ponto de vista econômico, será muito ruim. O que podemos dizer agora é que a situação é menos pior do que era há três meses." Cohen lembra que as principais economias da União Europeia têm metas anuais positivas de crescimento, que precisam ser adicionadas à queda. Assim, a França - que usualmente cresce cerca de 2% ao ano, deverá chegar ao fim de 2009 com uma perda de 7% do Produto Interno Bruto (PIB) nos dois últimos anos. Hoje, o Escritório Estatístico das Comunidades Europeias (Eurostat) deve publicar o balanço da produção industrial na zona do euro e nas principais economias do bloco. REINO UNIDO O déficit comercial do Reino Unido segue em alta e chegou a £ 6,45 bilhões em junho, mais de £ 200 milhões maior do que o esperado pelo mercado. A cifra foi anunciada pelo Escritório Nacional de Estatísticas (ONS), órgão que hoje deve divulgar seu balanço sobre o mercado de trabalho britânico. A piora nas contas externas foi causada pelo aumento de 2,2% das importações, cujo total somou £ 24,71 bilhões, ante um aumento de 1,4% nas exportações, que atingiram £ 18,26 bilhões.

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