30 de outubro de 2013 | 02h17
LONDRES - Uma semana após anunciar que a Espanha finalmente saiu da recessão, o governo de Mariano Rajoy correu para tirar da gaveta o plano de privatização da Aena, estatal que administra os aeroportos do país.
Diante de alguns sinais incipientes de otimismo com a economia doméstica, Madri pretende vender 60% da companhia no primeiro semestre de 2014. A operação é encarada como um termômetro da confiança externa na recuperação espanhola.
Depois de anos de corte de gastos públicos, o governo espanhol inicia uma nova etapa no esforço de tenta virar uma página da maior crise econômica em décadas. Na segunda-feira, foi divulgado o comunicado que abre oficialmente o processo de privatização da Aena.
A operação deverá ser a maior privatização na Espanha desde o estouro da crise econômica em 2008.
Pulverização. O plano não é vender todas as ações para um único comprador. A intenção é manter um "núcleo duro" de gestão com um grupo restrito de grandes investidores e pulverizar as demais ações na Bolsa de Valores de Madri.
Segundo o Conselho Consultivo de Privatizações, o "núcleo duro de acionistas de referência será composto por número entre três a cinco investidores" que terão uma participação conjunta de até 30% do capital. Os 30% restantes serão oferecidos ao mercado via oferta na bolsa.
Não há muitos detalhes sobre os requisitos exigidos para esses grandes investidores. O governo diz apenas que a "seleção será realizada mediante uma disputa restrita". Haverá uma primeira fase para "seleção dos candidatos que serão convidados a apresentar uma oferta" conforme a capacidade e solvência econômica e técnica das empresas.
Depois, serão escolhidos os vencedores por critérios como preço e compromisso de manutenção do investimento. O governo não esclareceu se quer atrair apenas investidores financeiros - como fundos - ou também investidores operacionais - como outras administradoras de aeroportos.
Bill Gates. O governo Rajoy corre com o processo para aproveitar o que está sendo chamado de "efeito Bill Gates". Em meio à notícia de que o país está deixando a recessão, o fundador da Microsoft e um dos homens mais ricos do mundo anunciou na semana passada um investimento de 113,5 milhões na compra de 6% do capital da endividada construtora espanhola FCC.
Para o governo, a operação pode gerar "um efeito bumerangue" ao incitar mais investidores estrangeiros a olharem para a Espanha em recuperação. E, para aproveitar esse momento, o governo quer oferecer novos ativos para "não esfriar" o tema.
Logo após a divulgação do comunicado sobre a Aena, começaram a ser ouvidos rumores de que fundos de investimentos do Oriente Médio, Canadá e Estados Unidos seriam os primeiros interessados em comprar uma fatia da estatal.
A Ferrovial, multinacional espanhola que administra aeroportos no Reino Unido, informa que só teria interesse na privatização da Aena se puder entrar como "investidor operacional". Se a única possibilidade for como "investidor financeiro", a empresa que administra o Aeroporto de Heathrow em Londres indicou que não teria interesse.
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