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Especialistas veem maior alta da inflação da zona do euro em uma década como temporária

Variação de 3% em agosto foi puxada por energia e alimentos; Banco Central Europeu diz que gargalos de produção relacionados à reabertura da economia estão por trás da disparada dos preços

Por Reuters
Atualização:

FRANKFURT - A inflação na zona do euro acelerou para o maior patamar em 10 anos em agosto, confirmou ontem a Eurostat, a agência de estatísticas da União Europeia (UE). A Eurostat informou que os preços ao consumidor nos 19 países do bloco avançaram 3% em agosto sobre o mesmo período do ano anterior, após aumento de 2,2% em julho, confirmando estimativa anterior divulgada em 31 de agosto. Foi a taxa mais elevada desde novembro de 2011.

Na comparação mensal, os preços no bloco avançaram 0,4%, também em linha com a estimativa inicial da Eurostat. O aumento é um desafio para a visão otimista do Banco Central Europeu (BCE) sobre a alta dos preços e a decisão de considerar que a taxa se trata de um aumento temporário acima de sua meta de 2%. A instituição elevou repetidamente sua projeção para a inflação neste ano, mas as altas foram ainda maiores. O aumento de preços agora deve atingir o pico nos últimos meses do ano, com analistas calculando uma máxima entre 3,5% e 4%.

Na zona do euro, pandemia tem elevado os preços em países como Portugal. Foto: Pedro Nunes/Reuters - 18/2/2021

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A alta foi impulsionada pelos custos de energia, mas os preços dos alimentos também subiram. Ainda ocorreram aumentos incomuns de preços dos bens industriais, de acordo com a Eurostat. No entanto, analistas de mercado seguem suas previsões amparado pelo BCE. Há o mesmo entendimento de que o aumento da inflação registrado em agosto seja temporário. 

Segundo o BCE, uma série de fatores pontuais, incluindo gargalos de produção relacionados à reabertura da economia após a pandemia de covid-19, são responsáveis pela maior parte do aumento da inflação, e que a alta de preços será controlada rapidamente no início do próximo ano. Os técnicos do BCE preveem que a inflação ficará bem abaixo da meta do banco nos próximos anos. O BCE reforçou seu compromisso no mês passado de manter uma política monetária frouxa, o que gera pressões sobre os preços.

Em entrevista à agência Reuters na semana passada, o economista-chefe do BCE, Philip Lane, disse que essas surpresas com os números da inflação ainda não são capazes de fazer com que ele mude de ideia sobre a natureza temporária das pressões sobre os preços, uma vez que o crescimento dos salários, um componente necessário da inflação durável, permaneceu intacto. Embora os técnicos do BCE estejam reconhecendo que subestimaram as pressões sobre os preços no curto prazo, eles dizem que a instituição está certa em manter a atual leitura do cenário econômico 

Analistas concordam com o BCE. “Os efeitos da reabertura e dos problemas de abastecimento podem se intensificar nos próximos meses. Mas suspeitamos que eles começarão a diminuir no próximo ano, conforme o consumo global e os padrões de comércio voltem a algo parecido com os patamares pré-pandêmicos”, disse a consultoria Capital Economics, sediada em Londres, em nota. “Acreditamos que a taxa principal cairá para cerca de 2% em janeiro e terá uma tendência de queda ao longo de 2022, encerrando o próximo ano em cerca de 1%”, acrescentou a consultoria.

Preços

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De acordo com dados da Eurostat, o núcleo da inflação também subiu em agosto acelerando de 0,9% para 1,6%. Esse índice exclui os preços sujeitos a muitas variações, como alimentos e combustíveis. Um estrato ainda menor, que não contabiliza álcool e fumo, subiu de 0,7% para 1,6%.

A próxima reunião do BCE será em outubro e deve decidir sobre o ritmo de suas compras de títulos no próximo trimestre. Embora algum ajuste seja possível, Lane argumentou que o BCE está comprometido em manter “condições de financiamento favoráveis”.

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