Publicidade

Especulação com juros

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O Wall Street Journal noticiou ontem que, um ano após o início da crise, voltou em grande escala a especulação global com juros. São as operações conhecidas no mercado como carry trade. Consistem em tomar dinheiro emprestado no país e na moeda onde os juros são baixos e reaplicá-lo na moeda e no país onde são altos. Pode-se tomar um empréstimo em ienes no Japão a 2,00% ao ano e reaplicá-lo em reais no Brasil a 8,75% ao ano. O aplicador embolsa no mole a diferença. Em torno desse conceito há inúmeras variáveis. Uma delas dispensa a entrada de capitais. Quem precisa remeter recursos para o exterior pode adiar a compra de dólares e, em vez disso, reaplicar os recursos em reais, aproveitando os juros mais altos aqui. A globalização financeira e os programas de computador praticamente automatizam essas práticas 24 horas por dia. Durante anos, exportadores e analistas se queixaram de que a excessiva valorização do real (queda da cotação do dólar em reais) tinha como uma de suas principais causas a especulação com juros, que aumenta a oferta de dólares no câmbio interno. Por isso, reivindicaram a derrubada dos juros para evitar essa transferência. O Banco Central sempre se recusou a fazer esse tipo de jogo, pois, no Brasil, a política monetária (política de juros) desempenha uma única função, a de empurrar a inflação para dentro da meta. Usar os juros para consertar o câmbio destrói a máquina de controle da inflação. Há alguns anos, os administradores do Banco da Inglaterra (banco central inglês) se queixavam nas reuniões do BIS (banco central dos bancos centrais) de que a prática de juros baixos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) levava os especuladores globais a injetar bilhões e bilhões de dólares no mercado inglês para tirar proveito da diferença de juros. Nem por isso o Banco da Inglaterra alterou sua política monetária. Apesar do aumento da diferença entre os juros, ao longo desta crise as operações de carry trade praticamente pararam, tanto porque o crédito foi bloqueado como porque as operações de câmbio ficaram tremendamente voláteis. Nesse período, o risco maior do especulador foi na hora de trazer seu dinheiro de volta e, assim, perder na operação de câmbio até mais do que tinha ganho com juros. Mas, uma vez superada a crise e recuperada certa estabilidade global no câmbio, essas operações estão de volta. Uma das formas de encarar esse fenômeno é o que têm feito certos exportadores brasileiros; é exigir toda sorte de intervenções, como derrubada dos juros a canetada e controle do fluxo de capitais, sem preservar a política de metas e o câmbio flutuante. Outra, é entendê-lo como um movimento inevitável enquanto as finanças forem mais globalizadas do que unificadas ou coordenadas estiverem as políticas macroeconômicas. Enquanto não houver convergência de juros, a tendência é que se aplique o princípio dos vasos comunicantes: a liquidez fluirá das zonas de pressão mais alta para as de pressão mais baixa, com o impacto proporcional no câmbio. A convergência de juros parece exigir coordenação global de políticas macroeconômicas. E isso tem a ver com a necessidade de solução dos desequilíbrios globais, coisa que se vem tentando desde Bretton Woods (1944). Confira Consenso - Um tanto surpreendentemente, os prognósticos sobre o comportamento da economia brasileira convergem para os mesmos pontos: crescimento do PIB de alguma coisa acima do zero em 2009 e algo acima dos 4% em 2010. E, no entanto, o nível de incertezas lá fora e aqui dentro é suficientemente grande para que produza números bastante divergentes entre si. Isso parece indicar que, na falta de critérios melhores, tanto instituições privadas como públicas se apegaram a projeções feitas pelo governo, especialmente pelo Banco Central e pelo Ministério da Fazenda.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.