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Líder de mercado na Oliver Wyman, Ana Carla Abrão trabalhou no setor financeiro a maior parte de sua vida, focada em temas relacionados a controle de riscos, crédito, spread bancário, compliance e varejo, tributação e questões tributárias.

Espera-se que o open banking reduza custos do crédito e traga mais inclusão financeira

Base dessa terceira disrupção financeira é a transferência para o consumidor bancário da posse das suas informações e do comando das suas operações de pagamento

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Por Ana Carla Abrão
Atualização:

Começou na Inglaterra, em 2016, uma profunda alteração na regulação financeira. Na sequência, Europa, Austrália, México e Índia também introduziram o tema. No Brasil, a discussão começou em 2017, no âmbito da agenda BC+. Mas foi com a Resolução Conjunta n.º 1, de 4 de maio de 2020, que o open banking brasileiro – ou Sistema Financeiro Aberto – foi formalmente lançado, definindo o ponto de partida para uma transformação no ecossistema financeiro nacional. 

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A base dessa transformação é a transferência para o consumidor bancário da posse das suas informações financeiras e do comando das suas operações de pagamento.

Com o open banking, o consumidor poderá compartilhar suas informações com os demais participantes do ecossistema financeiro e/ou viabilizar pagamentos com maior facilidade. Espera-se, com isso, uma redução nos custos do crédito, mais eficiência e inovação no lançamento de novos produtos e soluções e maior inclusão financeira. 

Para viabilizar essa transformação, bancos, instituições de pagamento, fintechs e Banco Central vêm trabalhando na padronização tecnológica e na segurança da infraestrutura Foto: André Dusek/Estadão - 9/1/2018

Para viabilizar essa transformação, bancos, instituições de pagamento, fintechs e Banco Central vêm trabalhando na padronização tecnológica, na segurança da infraestrutura, no escopo de dados a serem compartilhados e nas regras que definem essa nova forma de operação, que impõe mudanças estruturais na relação entre o consumidor de produtos e serviços financeiros e as instituições provedoras desses serviços e produtos.

O open banking, além de uma tendência global, se conecta a uma profunda mudança que vem ocorrendo na indústria financeira e que acompanha a disrupção tecnológica e consequentes alterações no comportamento do consumidor, cada vez mais exigente. Nesse contexto, o modelo tradicional de provisão de produtos e serviços passou a ser desafiado, abrindo espaço para que sistemas compartilhados – e não mais únicos, providos por uma única instituição – visem ao melhor atendimento das necessidades dos clientes. Conhecer o cliente – e oferecer a ele soluções adequadas –, com um volume mais amplo de informações, será fundamental para garantir a fidelização e a sustentabilidade futura das operações e empresas financeiras. 

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Mas a transformação não se dará do dia para a noite. Esse é um processo que já está acontecendo e ganhará força com o tempo. No Reino Unido, só agora, mais de cinco anos após o início da implementação, superaram-se as 3 milhões de pessoas e empresas usando o open banking. O que começou tímido em 2018, com pouco mais de 10 milhões de chamadas na soma dos primeiros meses, mudou de ordem de grandeza e atinge quase 10 bilhões de chamadas nos últimos 12 meses. 

No Brasil, espera-se que a adoção seja mais rápida. Aqui o foco do regulador financeiro alavanca a implementação, e as grandes instituições financeiras – para as quais o open banking é mandatório – já vêm se preparando desde antes mesmo da publicação da Resolução 1/2020. Além disso, temos um setor financeiro mais atrativo no Brasil, o que se traduz em investimentos e acelera a oferta de soluções ativas e inovadoras.

Com o escopo mais amplo do que em outras geografias (no Brasil, além do crédito, investimentos, seguros e previdência fazem parte do perímetro de compartilhamento), casos de uso mais diversos serão viáveis, o que deverá atrair mais instituições e clientes. Finalmente, uma melhor experiência do consumidor – maior falha do sistema inglês – deverá permitir uma adesão mais suave e rápida.

Esta não é a primeira vez que o sistema financeiro nacional se vê diante da necessidade de adaptar o seu modelo operacional. Isso aconteceu no período pós-real, quando a estabilização monetária eliminou de forma definitiva a maior fonte de receita dos bancos de então, o float inflacionário. Logo na sequência, a queda no nível dos juros reais fez com que o sistema financeiro visse no crédito ao setor privado – e não mais só o financiamento do governo – uma oportunidade de negócios. 

Com uma relação risco/retorno mais atrativa, impôs-se a necessidade de se desenvolver e adotar tecnologias de avaliação de risco de crédito até há pouco inúteis. Em ambos os casos, o sistema financeiro nacional respondeu com adaptações e resiliência. Mas não sem dores e nem tampouco sem custos. Agora não será diferente. Para bancos tradicionais e para novos participantes, serão tempos de adaptação e de mudança.

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*ECONOMISTA E SÓCIA DA CONSULTORIA OLIVER WYMAN. O ARTIGO REFLETE EXCLUSIVAMENTE A OPINIÃO DA COLUNISTA

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