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Esperar que este seja o século chinês pode ser otimismo demais

Números oficiais de crescimento da China são postos à prova e é pouco provável que o PIB seja de 10% ao ano

Por Lester Thurow
Atualização:

A China afirma que sua economia está crescendo de 10% a 11% ao ano, e analistas oficiais chineses dizem que seu país se equiparará aos Estados Unidos muito antes da chegada do século 22. Não acredite nisso. Primeiro, vamos tratar da implausibilidade dos números oficiais chineses. Matematicamente, se a economia total crescer 10% ao ano e se considerarmos que 70% da economia baseada nas áreas rurais não está crescendo (como declarado pelo governo chinês), a economia nas cidades chinesas teria de estar crescendo a uma taxa de 33% ao ano. A economia urbana está crescendo velozmente, mas não ao ritmo de 33%. Além disso, os números chineses divergem dos de Hong Kong, o território semi-autônomo que serve como a capital financeira da grande parte do Sul da China. Em 2001, Hong Kong passou por uma recessão, o que significa que seu produto interno bruto caiu. Guangdong, a província chinesa adjacente, tem uma população de cerca de 200 milhões. Em 2001, registrou um crescimento do seu Produto Interno Bruto (PIB) de 10%. Quais as chances de que ambos números estejam corretos? Mínima. Os índices de crescimento econômico podem ser inferidos a partir do consumo de eletricidade. Em todos os países do mundo, o uso da eletricidade geralmente tem aumentado mais depressa que o PIB. A eletricidade é necessária para quase todas as atividades produtivas e, devido a ineficiências, o consumo de eletricidade geralmente tem superado o crescimento econômico. A elevação nos custos da energia tem resultado no uso mais eficiente da eletricidade, mas particularmente no mundo em desenvolvimento, o crescimento econômico geralmente tem ficado atrás do aumento do consumo de eletricidade. Mas se formos acreditar nos números oficiais da China, há províncias chinesas nas quais o PIB vem crescendo mais depressa que o uso da energia. Isso é improvável, uma vez que os números do governo central afirmam, também, que o uso da energia por unidade do PIB está subindo - e não diminuindo, como alegado nas estatísticas do PIB das províncias. Entre as 12 economias mundiais de crescimento mais rápido no decorrer dos últimos dez anos, a velocidade de crescimento do PIB foi somente 45% maior que o consumo de eletricidade. No início da década de 70, o Japão estava fechando sua indústria de alumínio, altamente consumidora de energia. Durante esse período, a velocidade de crescimento do PIB foi 60% maior que o consumo de eletricidade, o nível mais alto registrado entre os países industrializados. Usando esses números como guia, levando em consideração o uso real de eletricidade da China, o que é relativamente fácil de medir, fazendo alguns cálculos, teremos a seguinte estimativa: o PIB da China vem crescente algo entre 4,5% (usando-se a média de um país em processo de rápido crescimento) a 6% (usando-se o mais alto índice do Japão), e não à taxa de 10% proclamada pelas estatísticas oficiais. Os números oficiais referentes à taxa do crescimento total da China são melhores aceitos como uma taxa aproximada do crescimento da economia de suas cidades. A China alega oficialmente que vai alcançar os Estados Unidos e se tornar a maior economia mundial bem antes da chegada do século 22. Há uma razão igualmente simples para que nenhuma dessas previsões tenha probabilidade de ser cumprida. Acontece que demora mais de 100 anos para um país grande e menos desenvolvido economicamente se nivelar com o líder mundial em renda per capita. Basta observar a história dos Estados Unidos, que teve um índice de crescimento muito mais alto do que a Grã-Bretanha no século 19 e, mesmo assim, só a alcançou na 1ª Guerra Mundial. Ou, então, veja o exemplo de Japão e Estados Unidos. Cerca de 150 anos depois de Japão ter iniciado sua modernização no período Meiji, o PIB per capita do país ainda representa 80% do PIB dos Estados Unidos em termos de paridade de poder de compra, embora, em termos nominais, tenha se equiparado aos Estados Unidos. Os Estados Unidos não estão parados. Na realidade, de 1990 a 2007, sua renda per capita cresceu mais depressa do que em quase todos os outros grandes países. A renda per capita da Europa caiu de 85% em relação à dos EUA em 1990 para 66% em 2007, segundo números do Fundo Monetário Internacional (FMI). Assim, digamos que o índice de crescimento da China ajustado pela inflação seja de 4% ao ano. Isso é otimista, porque a China certamente terá períodos ruins no próximo século. Todos os países têm - lembre-se da Grande Depressão nos Estados Unidos. Uma taxa de 4% de crescimento é a mais veloz que qualquer grande país já conseguiu durante 100 anos. Mas presuma que a China consiga isso. Presuma, também, que os EUA cresçam à taxa de 3%, que tem sido sua média nos últimos 15 anos. Agora projete essas duas taxas de crescimento para o futuro - em 2100, o PIB per capita da China ajustado pela inflação seria inferior a US$ 40 mil , enquanto o dos Estados Unidos seria de quase US$ 650 mil. Isso porque a China parte de uma renda per capita de US$ 1 mil e os Estados Unidos partem de US$ 43 mil. Se, em 2100, a China tiver o quádruplo da população americana como acontece agora, o país ainda não terá um PIB total igual ao americano. Mas é improvável que a China tenha o quádruplo da população que tem hoje. É sempre um erro projetar taxas de crescimento populacional para um século, mas vamos imaginar que, com a continuidade da política de filho único e a proporção entre os dois sexos favorecendo os meninos (muitos homens não vão encontrar esposas), a China deva experimentar um declínio populacional no século 21. Vamos pressupor, por um momento, que a população da China vai permanecer constante, em 1,3 bilhão de habitantes. Se a imigração para os EUA continuar no atual ritmo, a população americana vai aumentar. Se a população crescer a 1% ao ano, como tem acontecido recentemente, terá mais que dobrado em 2100, o que reduzirá a enorme diferença populacional entre os dois países. Será que essas previsões tendem a se realizar? Quem sabe? O que é evidente é que é improvável que a China ultrapasse os Estados Unidos no PIB em termos absolutos ou relativos num curto espaço de tempo. Talvez haja um século chinês, mas esse será o século 22, e não o século 21. *Lester Thurow é professor de Administração do Massachusetts Institute of Technology. É, também, membro do conselho da Taiwan Semiconductor, que opera na China continental

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