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Esquenta debate sobre dolarização na Argentina

Por Agencia Estado
Atualização:

Ao longo dos últimos dias, vem crescendo o debate entre analistas internacionais sobre uma eventual dolarização na Argentina. Para alguns, como o economista Jeffrey Sachs, que recentemente escreveu sobre o tema no Financial Times, o presidente Eduardo Duhalde deveria ter abraçado a moeda norte-americana desde o início e a desvalorização do peso sem o atrelamento ao dólar não resolverá os problemas do país. Já outros economistas, como os banco espanhol Urquijo, alertam que se o governo argentino demorar muito tempo para apresentar um programa fiscal e monetário crível, a dolarização "se tornará a única saída". Em meio a esse acalorado debate predomina, pelo menos por enquanto, a tese de que a dolarização seria mesmo um último recurso e que não teria efeito positivo para a Argentina no longo prazo. "Solução desesperada" Para Vicent Truglia, diretor para riscos soberanos da agência de classificação de risco Moodys, "a dolarização não é uma solução para a Argentina". "Pode ser uma solução de curto prazo se a situação social e econômica continuar se deteriorando e não houver outra alternativa", disse Truglia ao jornal espanhol Expansión. "Isso traria efeitos positivos no curto prazo mas não seria viável nos médio e longo prazos porque, em cinco ou dez anos, a Argentina voltaria a enfrentar problemas similares aos gerados pelo sistema de currency board". Para ele, a dolarização "seria uma solução desesperada como ocorreu no início da década passada com o plano de conversibilidade". Segundo Truglia, para que uma política cambial ligada ao dólar funcione bem, é imprescindível que a economia preencha quatro requisitos: "seja uma economia pequena, aberta, tenha flexibilidade preços e um setor público pouco endividado, como é o caso de ex-colônias britânicas como Hong Kong." Ele observou que a Argentina não cumpre nenhuma dessas regras, "ao contrário, é uma economia grande, fechada, com preços rígidos, muito endividada e, além disso, sem grande volume de atividade comercial com o país ao qual ligou sua moeda, os Estados Unidos." Para o diretor da Moodys, a melhor solução para a Argentina seria romper com o dólar e tentar seguir os passos do Brasil que, há dois anos, desvalorizou o real, adotou um câmbio flutuante e iniciou uma reforma de sua economia. "A Argentina poderia escolher um tipo de câmbio flutuante, gerenciado ou não, dependendo de suas reservas, que permitisse a administração de sua política interna com mais eficiência." Ele acrescentou que o risco mais iminente para o país "é a quebra do sistema financeiro". Apoio do FMI O estrategista-chefe para mercados emergentes do banco Dresdner Kleinworth Wasserstein, Neil Dougall, disse que a dolarização também seria a "última cartada" do governo argentino caso ele não conseguir apresentar com urgência uma reestruturação econômica que tenha credibilidade junto aos investidores. Para ele, essa também não seria uma solução de longo prazo para o país. "Será muito melhor que a Argentina adote um regime cambial flutuante", disse Dougall à Agência Estado. "Certamente, a adoção desse regime, inicialmente, seria mais difícil, mas poderia abrir melhores perspectivas para o país no longo prazo e atrair a confiança do mercado." Dougall afirmou que "é compreensível" que o governo argentino precise de tempo para negociar e finalizar um pacote econômico de tamanha proporção. "Mas o problema é que o relógio está correndo contra a Argentina, há forte pressão interna, há também forte pressão dos bancos espanhóis, que inclusive ameaçam sair do país", disse. "É crucial que as medidas sejam anunciadas rapidamente e que contem com o apoio do Fundo Monetário Internacional."

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