'Esse governo reverteu a tentativa de conter destruição da Amazônia', diz 'pai da sustentabilidade'

No Summit ESG - evento promovido pelo ‘Estadão’ -, John Elkington diz que empresas não conseguirão fazer uma transformação verde sozinhas

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Por Luciana Dyniewicz
3 min de leitura

A adoção de princípios sociais, ambientais e de governança (ESG, na sigla em inglês) por empresas em todo o mundo não será suficiente para deter as mudanças climáticas, na avaliação de John Elkington, conhecido como “pai da sustentabilidade”. Segundo o inglês, é essencial que os governos também atuem nessa área, criando políticas públicas como impostos para emissão de carbono - o que não vem ocorrendo no Brasil.

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“As empresas não conseguem fazer isso sozinhas, mesmo as maiores não conseguem. Elas podem fazer mudanças substanciais, mas dependem de governos para agir. Você tem de mudar o mercado onde elas atuam. Mas o reconhecimento da necessidade do governo está se espalhando rapidamente”, afirmou Elkington na manhã desta terça-feira, 15, em palestra online do Summit ESG, evento promovido pelo Estadão.

O inglês John Elkington éconhecido como “pai da sustentabilidade”. Foto: johnelkington.com

Criador do conceito “tripé da sustentabilidade” (segundo o qual, para uma empresa ser sustentável, ela precisa ser financeiramente viável, socialmente justa e ambientalmente responsável), Elkington destacou que países da União Europeia, além do Reino Unido e dos Estados Unidos, estão trabalhando para que uma transformação verde se viabilize. Omesmo, porém, não tem ocorrido na América do Sul e, principalmente, no Brasil, afirmou.

Elkington criticou os retrocessos na conservação da Amazônia, apesar de ponderar que esse problema não é restrito ao governo de Jair Bolsonaro. “Uma das minhas maiores preocupações - mas isso não é especificamente contra o governo Bolsonaro - é que esse governo reverteu o progresso de anos de tentar desacelerar a destruição da Amazônia.”

De acordo com ele, a saída da crise ambiental não ocorrerá se toda a população global não trabalhar conjuntamente - daí a necessidade de o Brasil também colaborar e preservar o ambiente. “O que estamos tentando fazer na União Europeia e em outras partes do mundo não será suficiente. A covid nos mostrou que a pandemia e a mudança climática só serão solucionadas se tivermos uma solução global. Se nos unirmos.”

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O inglês disse ainda que investidores e órgãos internacionais não deverão ajudar no trabalho de preservação ambiental do Brasil se o próprio governo não adotar iniciativas que façam isso. “O investidor de fora tem de ter confiança de que está investindo em cadeias de valor e de que o governo vai assegurar que pessoas normais não continuarão destruindo o ambiente. O governo precisa mostrar que o ambiente, nesse caso a Amazônia, é um ativo. Se não, ninguém vai investir no longo prazo.”

Em maio deste ano,a Amazônia teve recorde de desmatamento pelo 3º mês seguido, segundo o Inpe. Foto: Gabriela Biló/Estadão - 27/8/2019

Elkington afirmou acreditar que o capitalismo é o futuro, mas não em sua forma corrente. Segundo ele, o padrão estabelecido por Milton Friedman, em que empresas deveriam buscar apenas o lucro, ficou ultrapassado e a mudança será rápida porque a pressão sobre as empresas aumentou muito conforme as expectativas em relação a elas foram se alterando.

“ESG ainda é algo reativo, mas há uma mudança fundamental no modo de o mundo pensar. Governos, pessoas e empresas estão começando a se preocupar se nossos sistemas -nossa sociedade, nossa economia, nossa política - vão durar o suficiente para nos sustentar. E muita gente tem concluído que não. Portanto, o que veremos é uma expansão do que será esperado em termos de responsabilidade dos mercados e dos governos. E o ESG faz parte dessa responsabilidade.”

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