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Estados Unidos sentem a alta do petróleo, diz Greenspan

O ex-presidente do Fed afirmou que a economia americana e a do resto do mundo conseguiam absorver sem maiores dificuldades o preço da energia, mas que o cenário parece mudar

Por Agencia Estado
Atualização:

O ex-presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) Alan Greenspan disse nesta quarta-feira que os Estados Unidos começaram a sentir os efeitos do elevado preço do petróleo, e que os consumidores são os que têm as maiores perdas. Em sua primeira audiência perante o Congresso após ter deixado a direção do Fed, Greenspan afirmou que a economia americana e a do resto do mundo conseguiam absorver sem maiores dificuldades o preço da energia até agora, mas que o cenário parece mudar. "Até o momento, é difícil encontrar uma diminuição significativa na atividade econômica mundial como conseqüência da elevação dos preços do petróleo", disse Greenspan, perante o Comitê de Relações Exteriores do Senado. "Os Estados Unidos, especialmente, foram capazes de absorver o grande imposto implícito da alta dos preços do petróleo até agora. No entanto, dados recentes indicam que podemos finalmente estar sofrendo algum impacto", advertiu. As empresas aumentaram a produtividade de seus trabalhadores para manter seus lucros diante da alta dos preços da energia, mas os consumidores não puderam compensar a alta e já "apresentam dificuldades". Essa é uma má notícia para os Estados Unidos, pois dois terços de sua atividade econômica depende do consumo. Crescimento A economia do país cresceu 5,3%, em termos anuais no primeiro trimestre deste ano, um número muito alto e que foi em parte uma reação ao fraco aumento de 1,7% do Produto Interno Bruto (PIB) nos últimos três meses do ano anterior, quando se sentiu o impacto dos danos causados pelos furacões e pelos preços do petróleo. No entanto, o sucessor de Greenspan à frente do Federal Reserve, Ben Bernanke, alertou nesta segunda-feira que os Estados Unidos "parecem" experimentar atualmente uma desaceleração. Ao mesmo tempo, a inflação está em alta, reconheceu Bernanke, que qualificou sua alta recente como um acontecimento "ingrato", o que provocou quedas em Wall Street. A inflação reduz o poder aquisitivo dos consumidores, enquanto uma economia que se desacelera oferece menos incentivos à contratação e ao investimento. Alívio Greenspan, que fundou uma empresa de consultoria e escreve atualmente suas memórias, não acredita que vá haver um alívio na pressão dos preços da energia. "O equilíbrio entre a oferta e a demanda mundial de petróleo é tão precária que inclusive pequenos atos de sabotagem ou insurreições locais podem ter um impacto significativo sobre os preços", lembrou. De um lado, o apetite da China e dos Estados Unidos eliminam a capacidade ociosa de produção e, do outro, o investimento não tem sido o suficiente, exceto na Arábia Saudita, "para satisfazer a alta da demanda mundial de petróleo", avaliou Greenspan. Ao final da sessão desta terça-feira na Bolsa de Nova York, o barril de petróleo do Texas (WTI, leve) custava US$ 72,50. Pelo menos este elevado número terá um efeito indireto positivo, já que deve diminuir em certa medida "a preocupante dependência do petróleo" ao estimular o desenvolvimento de fontes alternativas de energia, segundo Greenspan. Além disso, incentivará o uso de veículos híbridos que combinem um motor de combustão e um elétrico, de acordo com o ex-presidente do Fed. Álcool Greenspan também disse confiar no álcool como um potencial substituto da gasolina, mas não no derivado do milho, e sim no derivado da cana-de-açúcar, que é mais barato. Atualmente, o Congresso analisa uma proposta para suprimir as tarifas à importação de etanol de cana-de-açúcar, cujo principal exportador é o Brasil. A medida, entretanto, sofre forte oposição dos produtores americanos de milho, que têm grande influência política. Além disso, Greenspan aposta na energia nuclear e no carvão "limpo", como é conhecido o novo produto produzido pela nova tecnologia que reduz a poluição emitida por esse combustível fóssil.

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