Publicidade

''Estímulo à aquisição de carteiras falhou''

MP tenta compensar efeito nulo da liberação do compulsório, diz ABBC

Por Renée Pereira
Atualização:

O fraco apetite dos grandes bancos pelas carteiras de crédito de instituições menores foi um dos componentes do pano de fundo da MP 443, anunciada ontem pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Há algumas semanas, o governo havia liberado o recolhimento do compulsório para incentivar a compra de portfólios de bancos com baixa liquidez. A medida, porém, não surtiu efeito. "As grandes instituições ainda não responderam ao estímulo do governo. A aquisição de carteiras está muito lenta e representa uma parcela baixa", avaliou o presidente da Associação Brasileira de Bancos (ABBC), Renato Oliva. Junta-se a isso a crescente desconfiança dos investidores em relação às instituições menores. Com medo de que a crise internacional possa ampliar seus efeitos no Brasil, boa parte dos detentores de CDBs lançados por esses bancos não renova a aplicação, migra para grandes instituições ou compra títulos do governo federal, explica o analista da Austin Rating, Luiz Miguel Santacreu. Isso significa eliminar mais uma importante fonte de captação dos bancos, que é a emissão desses papéis comprados por fundos de pensão, fundos de investimentos, empresas e pessoas físicas. "Com isso, os bancos vão minguando." Ele explica que o problema no Brasil não é risco de crédito, como no caso dos Estados Unidos, mas uma questão de confiança e empoçamento da liquidez. Por esse motivo, Santacreu acredita que as medidas anunciadas pelo governo ontem possam restabelecer um pouco o ânimo no setor. "A participação de um banco estatal pode amortecer o risco e permitir que os investidores voltem a aplicar nas instituições menores. Conseqüentemente, os bancos terão mais dinheiro para emprestar." Oliva, representante dos pequenos e médios bancos, também ficou otimista com os resultados positivos que a MP pode trazer para o setor. "O objetivo não é salvar banco A ou banco B. O objetivo é criar mecanismo que possa restabelecer a dinâmica de crédito interrompida no País nas últimas semanas. Hoje não existe crédito para pessoa jurídica", destacou o executivo. Segundo ele, por enquanto os clientes pessoa física não estão sofrendo tanto com a falta de liquidez. "Mas já começamos a perceber a redução dos canais de distribuição." A medida, no entanto, não agradou a todos. No mercado financeiro, as ações do setor bancário despencaram. A medida foi interpretada como um sinal de fragilidade do sistema financeiro nacional, como se algum banco estivesse prestes a quebrar. "Acredito que a medida foi uma forma de se precaver de uma crise maior no futuro. Mas o governo deu um tiro no pé", avalia o analista do setor bancário da consultoria Lopes Filho, João Augusto Salles. Para ele, a medida, que tinha o objetivo de tranqüilizar e renovar a confiança do setor, trouxe pessimismo. Além da sinalização ruim, a MP também pode ter efeito contrário. Ao invés de aumentar o volume de dinheiro no mercado pode aumentar o empoçamento da liquidez no setor financeiro, argumenta o consultor da Lopes Filho.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.