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‘Estou vivendo do jeito que dá, fazendo bicos’

O pedreiro José da Lapa está desempregado há quase um ano; agências têm grande demanda

Foto do author Márcia De Chiara
Por Márcia De Chiara
Atualização:

José da Lapa, casado e pai de dois filhos, está sem emprego com carteira assinada desde julho do ano passado. Ganhava R$ 3 mil por mês como pedreiro e essa era renda da família. “Fui demitido porque a obra terminou.” Agora, ele não tem renda fixa e consegue ganhar R$ 1 mil fazendo bicos. “Estou vivendo do jeito que dá.”

A família não tem casa nem carro. Por enquanto, não está atrasando o aluguel. “Tinha umas economias e deu para pagar. Daqui para a frente... as economias estão acabando”, conta o pedreiro.

José da Lapa ganhava R$ 3 mil por mês Foto: Rafael Arbes/Estadão

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Nos últimos tempos, quando tudo andava bem e Lapa estava empregado, a família conseguia fazer um churrasco no fim de semana e ele gastava R$ 400 na compra mensal do supermercado. “Agora estou economizando em tudo. Não tenho dinheiro.”

O churrasco do fim de semana, nem pensar. No supermercado, a família está gastando a metade. Para isso, escolhe as marcas mais baratas e desconhecidas. Ele passa o dia atrás de emprego ou de bicos para garantir o sustento da casa.

“Senti muito a queda do padrão de vida. Essa é a pior crise que já passei. Nunca tinha ficado desempregado em São Paulo”, diz Lapa. Ele nasceu na Bahia, numa cidade próxima a Juazeiro e veio para São Paulo para trabalhar. Os seus filhos estudam em escola pública.

Diante de tamanha reviravolta nas finanças da família, o pedreiro reviu os projetos. “Antes o plano era comprar um terreno erguer a própria casa. Agora, o plano é manter a esperança de arranjar um emprego.”

Agências de emprego. Com desemprego recorde, os trabalhadores abrem mão de até 30% da remuneração para conseguir uma recolocação no mercado de trabalho. Esse movimento ocorre em todos os níveis de vagas, das operacionais até as de alta gerência, apontam grandes agências de emprego.

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“As pessoas estão aceitando dar um passo atrás: quem ganhava R$ 3 mil por mês está disposta a receber R$ 2,5 mil”, exemplifica Fernando Medina, diretor de Operações da Luandre Soluções em Recursos Humanos, que tem 11 unidades espalhadas pelos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná.

Esse movimento é confirmado por Elizabeth Pinheiro, gerente de seleção da Global empregos, com 15 unidades entre São Paulo, Minas, Distrito Federal e Goiás. “As pessoas não querem esperar para se recolocar no mercado de trabalho e boa parte aceita ganhar, para o mesmo cargo, 30% menos do que recebia quando estava empregada”, conta a gerente.

Com a forte atuação no setor industrial, especialmente o automobilístico, a Global sentiu a retração na oferta de vagas em 2014 e 2015. Neste ano, os números estão estabilizados, porém em patamar baixo. Em contrapartida, a agência recebe diariamente cerca de 6 mil currículos impressos nas 15 unidades. Elizabeth explica que parte desses currículos não são de novos candidatos. São pessoas que entregaram os currículos na segunda-feira e retornam para deixar mais uma cópia na esperança de se recolocar.

Mesmo com a procura por uma vaga superior à oferta de trabalho, a agência Luandre registra desde fevereiro deste ano crescimento de 15% a 25% no número de vagas de emprego em relação a igual período do ano passado. Em maio, por exemplo, foram 2.532 ofertas de emprego.

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Esse movimento da agência, que à primeira vista, parece estar na contramão do cenário global do emprego, revela, segundo Medina, diretor de operações da agência, que há setores contratando. Ele destaca que logística, saúde e até mesmo varejistas, mas em menor proporção, estão admitindo. Ele pondera, no entanto, que a agência sentiu a retração de vagas em setores industriais, que são os mais afetados pela crise.

Assim como Elizabeth, Medina registrou um salto na procura pela recolocação profissional para todos os cargos neste ano. “Se antes tínhamos entre 15 a 20 candidatos por vaga, hoje temos 40. A procura dobrou.”

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