DAVOS - Em sua estreia no Fórum Econômico Mundial de Davos, o presidente do Bradesco, Octavio de Lazari Junior, avaliou que o investidor internacional apenas vai considerar como palpáveis as promessas do atual governo depois que conseguir perceber as ações acontecendo no Brasil. Ele falou com o Estadão/Broadcast no Centro de Convenções de Davos após assistir ao discurso do presidente Jair Bolsonaro e participar de evento com o ministro da Economia, Paulo Guedes.
"Mesmo que viesse qualquer coisa que tanto Guedes como Bolsonaro pudesse falar aqui, não adiantaria, o investidor quer ver ações acontecendo no Brasil. Chegar no Congresso, o Congresso votar, discutir, aprovar... É isso o que o investidor internacional quer", disse. "Existe certo ceticismo entre os investidores, porque é um governo totalmente novo, do que ele será capaz de realizar", continuou.
Lazari também relatou que o ministro detalhou que, na reforma tributária, a intenção é desonerar a produção. "Um exemplo é o dos Juros sobre Capital Próprio (JCP), para que haja maior produção por parte das empresas e tornar o Brasil um país atrativo para os investimentos internacionais", disse. Veja abaixo a entrevista.
Estadão/Broadcast - O que o senhor achou da participação de Bolsonaro e de Guedes em Davos? Lazari - Os eventos foram ótimos. O Paulo Guedes foi muito contundente, está muito convicto não só do que precisa fazer, mas do espaço que há para fazer essas mudanças que precisamos no Brasil. Ele reafirmou que a gente vai fazer a reforma da Previdência, que é uma pauta não mais do governo, mas do povo. Também vai fazer uma reforma tributária, de modo que onere menos a produção, como os Juros sobre Capital Próprio (JCP), para que haja maior produção por parte das empresas e tornar o Brasil um país atrativo para os investimentos internacionais. Foi contundente sobre isso e falou também sobre privatizar várias empresas para deixar governo mais leve. É muito bom ter um ministro da Fazenda com convicção de que esses planos que estão prontos e vão ser submetidos ao Congresso.
Estadão/Broadcast - Mas ele não falou de datas? Lazari - Não, mas o governo todo tem pressa, e o Paulo (Guedes) tem mais ainda. A lua de mel é curta e o Brasil precisa mostrar aos investidores que está fazendo a lição de casa para colocar o País em outro patamar de interesse por parte dos investidores e pessoas.
Estadão/Broadcast - E sobre o discurso de Bolsonaro? O auditório estava cheio, mas parece que o público não mostrou empolgação ... Lazari - Ele falou o que precisava ser falado. É um discurso sereno, tranquilo, de quem está confiante no que ele pode fazer no Brasil. Não dava para esperar qualquer outra coisa, o discurso tinha que ser esse mesmo. Não é momento para questionamentos e discussões. É hora de colocar sobre a mesa a mudança que precisamos fazer no País e a primeira delas é a reforma da Previdência, não tem alternativa. Estadão/Broadcast - O que se nota entre os investidores estrangeiros é que querem investir no País, mas que ainda aguardam por sinais... Não veio essa resposta aqui em Davos, certo? Lazari - Não. Mesmo que viesse qualquer coisa que tanto Guedes como Bolsonaro pudessem falar aqui, não adiantaria. O investidor quer ver ações acontecendo no Brasil. Chegar no Congresso, o Congresso votar, discutir, aprovar... É isso o que o investidor internacional quer. Existe um certo ceticismo entre os investidores, porque é um governo totalmente novo, do que ele será capaz de realizar. Se olharmos o quadro geral, quer seja sobre endividamento externo, inflação ou reservas cambiais. O Brasil está extremamente bem posicionado comparativamente a seus pares no mundo e é um destino para os investidores que, antes, querem ver o próximo passo. Estadão/Broadcast - A desaceleração da economia global não tira parte do interesse pelo Brasil por causa de uma busca por qualidade? Lazari - Essa desaceleração poderá ser favorável para o nosso País porque tem tudo para poder crescer – seja em exportação de minério, de commodoties – e o Brasil em si, olhando apenas o mercado local, está muito aquém de todo o seu potencial. O que a gente entende é que esse impulso nascerá com o próprio mercado local e a vinda dos investidores vem depois, em busca de retornos melhores. Estadão/Broadcast - É sua estreia em Davos, o que achou? Lazari - É meu primeiro ano aqui, fui a várias sessões, estou positivamente impressionado com a qualidade do Fórum e, no fundo, estamos discutindo questões e problemas que a nossa geração vive, mas que certamente as próximas poderão viver. Entra tudo, mas, para o mercado financeiro, financiamos muitas empresas de vários setores. Então, são preocupações que têm que estar no nosso dia-a-dia sob vários aspectos, seja aquecimento global ou preservação da natureza. Somos muito forte no agronegócio e temos que ter preocupação latente. O Brasil não é uma ilha isolada, nenhum país do mundo é.