PUBLICIDADE

Estrangeiros se naturalizam para garantir área maior no Brasil

Holandês teve de se naturalizar brasileiro para conseguir comprar as terras que queria em SP

Foto do author José Maria Tomazela
Por José Maria Tomazela
Atualização:

HOLAMBRA - Depois de 20 anos morando e trabalhando no Brasil, o holandês Jacobus Johannes Hubertus Derks achou que era hora de construir um patrimônio. Com o dinheiro economizado na criação de vacas de leite e porcos, com os pais e irmãos, numa pequena propriedade de Holambra (SP), em 1976, ele pretendia comprar uma grande área em campos ainda inexplorados de Paranapanema, no sudoeste paulista.

Ao fechar o negócio, soube que só poderia adquirir 45 hectares, área menor que a pretendida. “Como era estrangeiro, só pude comprar três módulos rurais, o máximo permitido por lei. Era uma boa terra, mas insuficiente para os nossos projetos.”

Jacobus Derks se tornou um grande produtor de grãos e de algodão em São Paulo Foto: Epitacio Pessoa/Estadão

PUBLICIDADE

Derks e a esposa tiveram de se tornar brasileiros naturalizados para fazer novas compras de terras. “Nós já tínhamos residência contínua aqui, convivíamos com os brasileiros e gostávamos do país, mas havia essa limitação. Então nos tornamos brasileiros naturalizados, mas não foi só pela terra”, disse. 

Com a naturalização, Derks investiu na compra de novas áreas até tornar-se um grande produtor de grãos e algodão em sua propriedade, a Fazenda Amarela Velha. Mais tarde, adquiriu também terras na região de Unaí (MG). Aos 68 anos, Derks repassou a gestão dos negócios agrícolas aos dois filhos brasileiros, Thiago e Thomas.

Ele conta que muitos imigrantes holandeses vieram para o Brasil depois do fim da 2.ª Guerra em busca de trabalho e oportunidade. “Na época, o Brasil aceitava os imigrantes, até para formar colônias e trabalhar a terra. Não eram todos os países que aceitavam.” Seus pais migraram com os cinco filhos – ele tinha apenas três anos. “Hoje, com a situação muito estável na Europa, a vinda de europeus para o Brasil diminuiu muito. Quem está investindo em grandes áreas de terra são grupos multinacionais.” 

Grato ao País, em 2013 o produtor rural usou sementes de cereais como trigo, triticale, aveia e canola para formar, em sua fazenda, uma gigantesca bandeira brasileira, com 890 metros de comprimento por 680 metros de largura, numa área equivalente a 70 campos de futebol. 

Sem burocracia

Publicidade

O italiano Claudio Poli, que mora na região de Treviso, norte da Itália, conta que não teve nenhuma dificuldade para comprar um sítio de 3 hectares, no bairro Rio Una de Cima, em Ibiúna, interior paulista, em 2002.

“Na época, passei uma procuração para uma cunhada brasileira e ela cuidou de tudo. Só estive lá para conhecer a propriedade, mas o negócio foi fechado à distância”, disse. Poli tinha planos de explorar o sítio com turismo e piscicultura, mas o projeto não seguiu adiante. “Vendi alguns anos depois como comprei, sem nenhum problema.” O italiano acredita que foi dispensado de mais formalidades por se tratar de área pequena.

O iraquiano Nawfal Assa Mossa Alssabak também se naturalizou brasileiro antes de comprar terras no bairro Rio da Várzea, em Pereiras, onde instalou o maior criatório de frangos de corte do Estado de São Paulo, com 1 milhão de aves alojadas. Nawfal está desde 1982 no País e se naturalizou em 1990. A fazenda foi adquirida dez anos depois e a maior parte dos funcionários é de brasileiros. Procurado, Nawfal informou que não falaria sobre seus negócios.

PUBLICIDADE

Entre 1998 e 2016, estrangeiros de 40 países compraram 10.132 propriedades rurais no Estado de São Paulo, segundo dados do Incra. A grande maioria – mais de 95% – tinha área inferior a 100 hectares. O maior número de compras foi registrado em 2002. Os japoneses lideraram as compras, seguidos pelos portugueses, italianos, espanhóis e alemães, mas há registro de aquisição de áreas também por declarantes da Rússia, Jordânia, Coreia do Norte e Cingapura, além de países africanos.

A maior propriedade, a fazenda Chácara Arco Íris, com 62,4 mil hectares, foi adquirida em novembro de 2002 por um grupo japonês. Segunda maior área, a Fazenda Guapiara, com 21,2 mil hectares, foi comprada por um suíço em março de 1997. 

Tudo Sobre
Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.