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Estrelas da economia latino-americana crescem pouco

Chile e México atravessam fase difícil, mas ainda dão inveja a países na região

Por Agencia Estado
Atualização:

Alguns problemas podem dar inveja, como ficou claro na sexta-feira, no seminário promovido em São Paulo pelo LatinSource, uma rede internacional de consultores econômicos, da qual faz parte a A.C. Pastore & Associados, do economista Affonso Celso Pastore, ex-presidente do Banco Central (BC). Quando o economista chileno Andrés Velasco, da Universidade de Harvard, começou a descrever os ?problemas? econômicos do seu país, muitos sorrisos irônicos surgiram na platéia, enquanto ele mencionava indicadores do Chile: risco país de 140 pontos (ante 930 do Brasil); relação entre a dívida pública líquida e o PIB de 13% (pelo critério brasileiro, o índice chileno sobe, mas ainda fica a léguas da dívida/PIB do Brasil, de 55%); taxa real de juros de longo prazo de 4%; inflação de 4,5% do PIB; e perspectiva de crescimento em 2003 de 3% ou um pouco mais. Para o público brasileiro, os números chilenos pareceram um sonho remoto de felicidade. Mas os problemas mencionados por Velasco não são irreais, quando vistos pelo prisma chileno. Depois de crescer a um ritmo médio de 7% ao ano, no período de 1986 até até 1997, o país não passou incólume pela série de crises que afetaram os mercados emergentes. A média de crescimento desde 1998 foi de aproximadamente 2% ao ano, um ritmo altamente insatisfatório (mesmo para o Brasil). ?A grande questão é saber se isto se deve à má sorte e a circunstâncias externas, ou a uma queda sustentada da poupança e do investimento?, disse Velasco. De fato, nos últimos anos a taxa de investimentos caiu de 28% para 23% do PIB (no Brasil, ela ficou abaixo de 19% em 2002). Velasco não respondeu àquela pergunta, mas mostrou um moderado otimismo, achando provável que o país retome um ritmo de crescimento mais rápido, mesmo que inferior aos 7% ao ano experimentados durante mais de uma década. A proposta do seminário foi a de discutir as experiências de quatro países latino-americanos ? Chile, México, Argentina e Brasil. A segunda apresentação foi sobre o México, feita pelo consultor Jonathan Heath. Novamente, o quadro apresentado foi o de um país latino-americano que atingiu um nível admirável de equilíbrio macroeconômico e condições para o crescimento sustentável ? mesmo que inferior ao Chile ?, mas que vem esbarrando recentemente em um problema sério de fraco crescimento. O problema do México é uma dependência umbilical do setor industrial americano, já que 90% das exportações mexicanas são de manufaturados e de 85% a 90% das vendas externas são para os Estados Unidos. Com a economia americana cambaleante, o México, segundo Heath ?ficou totalmente sem motor para o crescimento?. Outro problema mexicano é que, durante os anos de forte crescimento da produção industrial que se seguiram ao início da Área de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), em 1994, o nível de emprego no setor caiu. ?A abertura comercial não gera emprego, porque há uma destruição líquida de postos de trabalho ineficientes?, diz Heath, referindo-se aos impactos iniciais. O México tem uma taxa de desemprego pequena, abaixo de 3%, mas a queda do emprego industrial naturalmente afeta a qualidade dos postos de trabalho. Outro obstáculo ao crescimento do México, segundo Heath, é um setor bancário intensamente avesso a conceder crédito. Comparado com os problemas mexicanos e chilenos, a situação argentina, abordada pelo economista Guillermo Mondino, parece quase um pesadelo. Além de todos os problemas econômicos e financeiros do país depois do colapso da paridade e do calote na dívida pública, Mondino identifica uma política ?neopopulista? na área econômica. A produção industrial voltou a crescer, diz Mondino, mas o investimento desabou. Ainda assim, ele vê luz no fim do túnel quando um novo presidente eleito assumir em maio. Pastore, que falou sobre o Brasil, acha que o México e o Chile, mesmo com os atuais problemas de conhecimento, são o modelo a seguir. O grande ganho destes países, ressaltado por vários palestrantes, é que fases de baixo crescimento não significam mais graves problemas financeiros e cambiais, a combinação tão típica da história latino-americana.

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