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Estudo europeu diz que Mercosul ganharia U$ 9 bi em acordo com bloco

Estudo indica que Brasil seria maior beneficiado; diplomatas brasileiros não comentaram.

Por Márcia Bizzotto
Atualização:

Um estudo encomendado pela Comissão Européia afirma que um acordo entre Mercosul e União Européia poderia render aos países do bloco sul-americano um ganho econômico de US$ 9 bilhões, liderado principalmente pelo desempenho do mercado brasileiro. A estimativa faz parte de um estudo de impacto comercial realizado pela Universidade de Manchester e outras sete instituições européias e sul-americanas a pedido da Comissão Européia, o braço Executivo da União Européia. A análise abrange os três setores mais relevantes na relação comercial entre os dois blocos - agricultura, indústria e serviços - e considera um cenário com tarifas zero. De acordo com o documento, enviado nesta quarta-feira a diplomatas do Mercosul, a União Européia teria um ganho menor que o do bloco americano: US$ 4 bilhões, o equivalente a 0,1% de seu PIB. "Os impactos econômicos são relativamente maiores nos países do Mercosul do que na UE fundamentalmente porque o comércio com a UE representa uma proporção maior dos fluxos comerciais totais do Mercosul", diz o texto. Segundo o estudo, o Mercosul ganharia principalmente nos setores agrícola e de alimentos processados, mas teria prejuízos nos setores de máquinas, automotivo, têxtil e químico. Alguns desses setores poderiam experimentar modificações de até 50% na produtividade. Já para a União Européia, uma liberalização plena levaria a um aumento de entre 1% e 2% na produção de veículos e máquinas, enquanto que reduziria entre 3% a 5% os produtos animais, grãos e alimentos transformados. O maior responsável pelas vantagens sul-americanas, segundo a análise, seria o Brasil, já que o país "é responsável por 75,7% de todo o comércio do Mercosul com a UE". "Um acordo de comércio livre com o Mercosul, do ponto de vista puramente econômico, é quase o mesmo que um acordo de comércio livre com o Brasil", afirma o texto. Para o país o ganho em bem-estar econômico seria de US$ 6,8 bilhões, ou 1,5% do PIB. A economia brasileira cresceria 0.8%, incentivada pelo bom desempenho do setor de alimentos processados. Sem a barreira atual de 35% aplicada para o Brasil, esse setor, responsável por 3,5% de toda a produção brasileira, poderia duplicar de tamanho. Já o setor agropecuário poderia crescer em 32%. Por outro lado, o setor automotivo, um dos pilares da indústria brasileira, ficaria com a pior fatia do bolo e poderia enfrentar uma queda na produção de entre 0,9% e 0,6%. "A curto prazo pode haver pressão, particularmente no setor de autopeças, até que se ajuste ao desafio de competir com as importações. Mas, com o contínuo fluxo de investimento estrangeiro, a participação dessas exportações na produção total deverá crescer." Diplomatas brasileiros não quiseram comentar as conclusões do estudo. Disseram apenas que "o Mercosul saberá julgar as vantagens (de um possível acordo) por si mesmo, avaliando seus próprios interesses." As negociações para um acordo de associação entre Mercosul e UE começaram em 1999 e, desde o ano passado, os dois blocos decidiram esperar o fim da Rodada de Doha antes de fazer novas propostas. O impasse persiste porque os blocos ainda divergem sobre os prazos para reduções de tarifas. O Mercosul defende uma abertura agrícola mais rápida e maior desde o princípio e, ao mesmo tempo, mais cautela com os setores de bens e serviços. A Europa pede exatamente o inverso. Ainda assim, a UE é o principal destino das exportações agrícolas do Mercosul, que em 2004 somaram US$ 16,2 bilhões apenas para o bloco. Por outro lado, nesse mesmo ano as exportações de produtos manufaturados do Mercosul para os europeus foram de US$ 10,5 bilhões, enquanto que as importações chegaram a US$ 20 bilhões. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.

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