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EUA apresentam "trailer" de propostas para Alca

Por Agencia Estado
Atualização:

O "esboço" da oferta dos Estados Unidos para a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) apresentado hoje não foi suficiente para que o Brasil constatasse o grau de ousadia do governo americano em relação à abertura de mercado. Diplomatas ouvidos pelo Estado constataram que os tópicos enumerados nesta terça-feira pelo representante americano para o Comércio, Robert Zoellick, indicam a tentativa de cooptar o interesse de setores produtivos dos países do Hemisfério em torno das negociações. Mas traz pouca clareza sobre o que realmente Washington deverá oferecer ao Brasil e seus sócios do Mercosul na área agrícola no próximo 15 de fevereiro. A principal isca dos Estados Unidos foi a proposta de liberalizar em cinco anos, contados à partir da assinatura do acordo final, as importações de produtos têxteis e de confecções. Se o atual prazo para a conclusão da Alca for cumprido, essa medida significaria a redução gradual das tarifas de importação, a cada ano, até 2010, quando deveria chegar a zero. Segundo o embaixador do Brasil diante da União Européia, José Alfredo Graça Lima, os americanos demonstram ousadia nesse item, uma vez que trata-se do segundo setor mais protegido no mundo. Nos Estados Unidos, alíquotas intransponíveis (os chamados picos tarifários) são as barreiras preferidas. Trailer - Mas o negociador chamou a atenção para o fato de que iscas aqui e acolá dão pouca noção sobre o conteúdo global da proposta. "O que o Zoellick apresentou foi só o trailler do filme, com as cenas mais fabulosas", resumiu. "Será necessária uma análise profunda do conteúdo da oferta, como um todo, para constatarmos se realmente é equilibrada e se corresponde aos interesses nacionais", completou. Por enquanto, o tema que mais interessa ao Brasil e seus parceiros, a ampliação do acesso de seus produtos agrícolas ao mercado dos Estados Unidos, continua uma incógnita. O anúncio de Zoellick redobrou os cuidados com que os negociadores brasileiros vão tratar o capítulo agropecuário na oferta que será apresentada no dia 15. O representante indicou apenas que os Estados Unidos pretendem derrubar as tarifas sobre 56% de suas importações desse setor logo que a Alca entre em vigor - sem mencionar que boa parte dessas alíquotas já é bem baixa. Ele completou que, para os 44% restantes, as alíquotas cairão gradualmente em prazos de "cinco anos, 10 anos ou mais, ajustadas a cada país". Apreensão A expressão "ou mais" foi a que causa maior apreensão entre os negociadores brasileiros. Sob o item "ou mais" estarão os produtos agrícolas que os Estados Unidos tratarão como sensíveis e que, portanto, poderão nunca fazer parte do livre comércio entre os 34 sócios. A essa confirmação de que a oferta americana terá uma lista de exceção, apesar de reiterar que toda a pauta de importação estará sobre a mesa, acrescentam-se as dúvidas sobre as dificuldades que o próprio Zoellick enfrentará para convencer o Congresso americano a negociar o capítulo agrícola. De forma cuidadosa, Zoellick indicou hoje que a oferta dos Estados Unidos abrirá seu mercado com graus distintos de generosidade, dependendo do patamar de desenvolvimento das regiões das Américas. A medida já era esperada pelo governo brasileiro, que tentou desmontar a possibilidade de os americanos apresentarem ofertas diferenciadas em novembro, na reunião ministerial de Quito. Mas o tema acabou em aberto. Hoje, entretanto, Zoellick foi claro ao mencionar como tratará as importações de produtos industrializados. Sobre produtos agrícolas, nenhuma palavra. Esse tratamento diferenciado abre a brecha para que os Estados Unidos tentem inviabilizar as alianças que o Brasil vem bucando entre seus vizinhos da América do Sul em torno de posições negociadoras. Embora o País reclame desse método, terá de levar em conta que o Mercosul concordou, no passado, com as regras que permitiriam o tratamento diferenciado para pequenas economias na Alca.

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