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EUA condicionam acordo com Mercosul à saída da Venezuela

Subsecretário americano disse que as agendas de Washington e de todos os demais países latinos não coincidem com a "política do medo" de Chávez

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Por Redação
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Os Estados Unidos sinalizaram nesta quinta-feira, 12, que um possível acordo comercial com o Mercosul dependerá da exclusão da Venezuela do grupo de sócios plenos do bloco. A mensagem foi trazida a Brasília pelo subsecretário de Estado americano, Nicholas Burns, que se encontrou com o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim. Cuidadoso, Burns traduziu esse recado para a imprensa ao afirmar que as agendas de Washington e de todos os demais países da América do Sul não coincidem com a "política do medo" do presidente venezuelano, Hugo Chávez. "A agenda dos Estados Unidos, do Brasil, da Argentina, do Chile, do Peru, do Equador, da Bolívia, do Uruguai e do Paraguai é da democracia, da justiça social, da imigração, da redução da pobreza e do comércio", afirmou Burns. "Nós todos não seguimos a política do medo e da divisão. Os desafios da política do presidente Chávez são diferentes", completou, ao ser questionado se a presença da Venezuela poderia inviabilizar um possível acordo comercial entre os Estados Unidos e o Mercosul. Minutos depois, ao discursar no em um seminário internacional voltado a discutir como promover a inovação e a produtividade econômica, Burns mencionou a "comunista" Cuba e a Venezuela como as duas exceções em uma América Latina comprometida com a democracia. Nesse ponto, resvalou em um tema nevrálgico para o Mercosul, mas encoberto várias vezes pelo Brasil e seus sócios - a necessidade de os novos membros plenos do bloco cumprirem com a Cláusula Democrática. Apesar da cautela ao abordar diretamente a Venezuela, Burns enfatizou que a "atmosfera democrática sempre motiva as relações comerciais". "Temos grande interesse em trabalhar junto ao Mercosul", afirmou Burns. "Percebemos que o Mercosul tem um papel significativo como área econômica e temos de ver a melhor maneira de mover as nossas relações comerciais", acudiu Thomas Shannon, subsecretário de Estado para o Hemisfério Ocidental. Shannon lembrou, de forma realista, que os subsídios agrícolas americanos continuam a ser um problema central para a negociação de um acordo entre o Mercosul e os Estados Unidos. E que, em 2005, contribuiu para o fracasso da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). Mas, otimista, disse esperar que o dilema seja resolvido na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). De acordo com Burns, há "boa atmosfera" nas relações entre os Estados Unidos e a América do Sul, especialmente o Brasil - mencionado como o maior parceiro de Washington na região e como um dos melhores nas Nações Unidas. Ele e Shannon desembarcaram ontem, quando ainda estava em Brasília o secretário do Tesouro americano, Henry M. Paulson, depois de visitas ao Chile e ao Uruguai. Para o subsecretário, Brasil e Estados Unidos vivem o momento "mais positivo" de suas relações e essa "promessa" de parceria não pode ser desperdiçada. De fato, os Estados Unidos agarraram com as duas mãos uma discreta virada no eixo da política externa brasileira no início deste segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em março passado, Lula e George W. Bush, visitaram-se e firmaram um protocolo de cooperação na área de biocombustíveis, que fincou as bases uma nova relação entre Estados Unidos e o Brasil. Com esse movimento, Brasília flexibilizou a prioridade às relações com países em desenvolvimento e voltou-se de forma mais aberta para a aproximação com as grandes economias desenvolvidas. O embaixador do Brasil em Washington, Antônio Patriota, afirmou que está em curso uma "intensificação" do comércio entre Brasil e Estados Unidos, mas não avançou se isso levará a um acordo comercial entre os dois países ou mesmo ao início de uma negociação entre o Mercosul e os EUA, chamado de "4+1". "Há vida além dos acordos de livre comércio", disse. Em setembro ou outubro, o Brasil deverá receber a visita do secretário de Comércio dos EUA, Carlos Gutierrez, que virá acompanhado de 10 altos executivos americanos.

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