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'EUA deram segundo passo em acirramento da guerra comercial', diz Barral

Para ex-secretário do Ministério do Desenvolvimento, a decisão de classificar os chineses como manipuladores cambiais, tomada pelo governo Trump, deve levar a moeda chinesa a cair ainda mais

Por Douglas Gavras 
Atualização:

A decisão dos Estados Unidos de classificar a China como manipulador cambial, na última segunda-feira, 5, após uma forte desvalorização do yuan (a moeda chinesa) em relação ao dólar, em plena guerra comercial, deve fazer com que o governo Trump busque, legalmente, novas formas de impor tarifas ao país asiático, avalia o ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento e sócio-fundador da consultoria BMJ, Welber Barral.

Ele também diz acreditar que a medida pode ter o efeito contrário ao desejado pelos Estados Unidos, levando a uma desvalorização da moeda chinesa e ao acirramento do conflito comercial entre os dois países. A seguir, os principais trechos de sua entrevista ao Estado.

"Em uma guerra comercial não há vencedores", diz Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento. Foto: AYRTON VIGNOLA/AE

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Como funciona a declaração de manipulação cambial, por parte do governo Trump contra os chineses?

O governo americano tem, previsto na legislação, a possibilidade de declarar que um outro país é manipulador de câmbio. Isso poderia permitir que o presidente dos Estados Unidos, legalmente, adotasse tarifas maiores contra os produtos chineses. Na prática, isso é uma coisa que Trump já está fazendo, mas ele dá um segundo passo no acirramento do conflito comercial entre os dois países.

Na prática, quais seriam os próximos passos?

O Departamento do Tesouro dos Estados Unidos vai ao Fundo Monetário Internacional (FMI) para entrar em negociação com o país acusado de manipulação. Caso o contrário os EUA podem impor várias sanções. A ação tem um valor principalmente simbólico, de buscar meios legais para impor novas tarifas.

A questão seria intermediada pelo FMI?

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Sim, o FMI seria o intermediador, neste caso.

A denúncia de manipulação do câmbio pelos chineses não é uma questão nova, correto?

Não, mas esta é a primeira vez que a China é acusada de manipular o câmbio desde 1994. Na época do governo de Barack Obama, que antecedeu Trump na Casa Branca, houve várias discussões de que o presidente deveria fazer o mesmo que Trump está fazendo agora, mas ele não fez, justamente pelo efeito político de acusar um outro país de manipular o câmbio.

A medida não foi exagerada?

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Donald Trump se acha um especialista em negociação, ele quer colocar mais pressão sobre os chineses. Os americanos apostaram que as tarifas que vêm sendo impostas desde o ano passado fossem forçar a China a aceitar exigências, principalmente. Só que a China até agora tem retaliado e os EUA respondem com novas retaliações.

A acusação de manipulação do câmbio pode ter o efeito esperado pelos Estados Unidos?

Acredito que não. É como uma profecia autorrealizada: enquanto os Estados Unidos colocam mais tarifas contra a China, a moeda chinesa cai mais ainda. A China tem muita intervenção estatal na economia ainda, mas, se olharmos tecnicamente, as medidas americanas pressionam para baixo a moeda chinesa.

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Esse novo passo da guerra comercial deve trazer algum efeito para o Brasil?

Um conflito assim faz diferença para o mundo todo. Ter as duas maiores potências do planeta em conflito gera uma instabilidade que afeta os custos de frete, de seguros e a previsibilidade de preços. O Brasil, particularmente, aumentou a venda de commodities, como soja, para China, mas ainda não conseguiu ocupar o mercado americano com produtos industrializados brasileiros que os EUA deixaram de comprar dos chineses. O País não conseguiu ganhar mercado e competir com outros países asiáticos, como Vietnã e Coreia do Sul.

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