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EUA deveriam ajudar América Latina, afirma FHC

Por Agencia Estado
Atualização:

O presidente Fernando Henrique Cardoso disse hoje que os Estados Unidos deveriam seguir o exemplo da União Européia (UE), ajudando os países latino-americanos no processo de formação da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). "Quando a UE foi formada, ou antes mesmo de ser formada, os países europeus já ajudavam os mais pobres da região", disse o presidente. "Para que tenhamos uma América Latina integrada, um movimento desse tipo seria bom." Ao se referir à posição dos Estados Unidos em relação aos países latino-americanos, FHC afirmou que "gestos concretos ajudam mais do que as palavras." Segundo ele, a melhor ajuda para América Latina "é o comércio livre, o acesso ao mercado, a criatividade, a capacidade de transferência de tecnologia, a formação de nosso conhecimento". Ontem, durante a Cúpula União Européia/América Latina e Caribe, uma conversa privada entre FHC e o presidente do México, Vicente Fox, sobre a ajuda financeira recebida pela Espanha na formação do bloco europeu foi gravada e exibida pela emissora de televisão espanhola Telecinco. No diálogo, os dois chefes de Estado comentam como o forte crescimento econômico da Espanha nas últimas décadas foi resultado do apoio dos países mais ricos da região e criticam os Estados Unidos por não fazerem o mesmo no continente americano. (Leia a íntegra do trecho da conversa.) "Esse comentário poderia ter sido feito em público", disse Fernando Henrique. "No final da Segunda Guerra, as discussões entre Churchill e Roosevelt eram muito claras: elas tinham o sentimento de que era preciso criar um novo mundo, com um ideal de liberdade, democracia e bem-estar social." Segundo o presidente, "a integração nas Américas também precisaria de um impulso para que as pessoas se sentissem participantes de uma sociedade mais igualitária". Até o mesmo Brasil, ressaltou, vem ajudando outros países da região. Ele contou que ontem, durante a cúpula, um dos presidentes da América Central agradeceu pelo cancelamento de uma dívida de seu país para com o Brasil. "Nós estamos cancelando a dívida, fizemos isso com vários países porque eles não podem pagar", disse. "Eu acho que os países mais ricos, e o Brasil não é dos mais ricos, devem fazer gestos de ajuda". "O boom do futuro é o do conhecimento, quanto mais houver apoio nessa matéria - e a Europa se dispôs a ajudar - melhor". Segundo o presidente, os "Estados Unidos podem ter um papel muito dinamizador na criação de bases de uma sociedade que se sinta parte de um hemisfério das Américas". Crise argentina Para FHC , a Argentina terá que adotar algumas medidas antes de receber ajuda financeira externa, mas sem interferências externas. "A Argentina está numa fase em que precisa tomar certos passos que mostrem que o país tem capacidade, como eu acredito que tem, de se organizar e reorganizar seu sistema, inclusive financeiro", afirmou. "Isso não quer dizer dar um receituário à Argentina, os argentinos sabem melhor do que nós o caminho para organizar sua economia e sociedade." O governo argentino, avalia, "já está dando esses passos" e é possível que na próxima reunião ministerial entre o Mercosul e a UE, no mês de julho, em Brasília, o país já tenha recebido algum apoio. "Espero que até lá a Argentina tenha recebido sinais concretos de um apoio efetivo do FMI e dos países em geral porque eu espero que a Argentina também terá dado os passos efetivos internamente." UE X Mercosul FHC admitiu que a reunião entre o Mercosul e a UE "não avançou como deveria ter avançado", mas o saldo final foi positivo. Por isso, na reunião com representantes europeus ontem, insistiu em "acelerar o passo" das negociações a partir de julho, na reunião em Brasília. "Essas reuniões têm um lado simbólico, outro político e também um aspecto prático, no qual o Chile avançou e o México já havia avançado; agora é preciso que todos nós avancemos porque a volta do interesse da Europa pela América Latina é muito importante para que tenhamos um mundo mais equilibrado." O presidente recebeu hoje o título de Doutor "Honoris Causa" na Universidade de Salamanca. Na solenidade, com a participação de cerca de duzentas pessoas, o FHC fez um discurso com forte tom acadêmico. Ele salientou a importância dos laços entre a Europa e a América Latina e comentou a recente instabilidade política na Venezuela. "Caso se configure ameaça à ordem institucional em algum país, a reação dos vizinhos é pronta e coordenada, como demostrou o episódio da Venezuela", disse. "Que o precedente contribua para dissuadir conspiradores de plantão, qualquer que seja seu abrigo". O presidente viaja hoje, no final da tarde, para o Vaticano, onde participa neste domingo da canonização de Madre Paulina.

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