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EUA fazem mais exigências à OMC

Casa Branca agora exige abertura dos mercados de químicos, eletrônicos e máquinas dos países emergentes

Por Jamil Chade
Atualização:

As exigências do Estados Unidos ameaçam levar ao fracasso um acordo mundial de comércio. Para atender às reivindicações do setor privado, a Casa Branca pressiona pela abertura dos mercados da China, do Brasil e da Índia em áreas estratégicas, como máquinas, eletrônicos e químicos. O Brasil e os demais países emergentes rejeitam a exigência. Brasília alerta que a Casa Branca estaria tomando uma posição de risco diante da crise mundial e dos sinais negativos que o novo fracasso de um acordo comercial vão enviar aos mercados. Para o governo brasileiro, a possibilidade de um acordo em 2009 seria ainda mais tênue diante do aprofundamento da recessão e da maior pressão por parte dos setores mais protecionistas. Já John Engler, presidente da poderosa Associação America de Indústrias, alerta que não aceitará um acordo sem a abertura do mercado brasileiro, indiano e chinês. Por isso, a Organização Mundial do Comércio (OMC) decidiu ontem adiar a decisão sobre a realização de uma conferência ministerial para fechar a Rodada Doha. Para complicar, os americanos ainda hesitam em reduzir os subsídios ao algodão. Essas exigências podem frustrar a primeira grande promessa de reformar o sistema econômico mundial. A negociação da OMC foi lançada em 2001 e, quando parecia morta, a recessão deu um novo impulso ao processo. O G-20 conclamou a OMC a fechar um acordo para dar um impulso ao comércio em um momento de crise. Um fracasso agora significaria a primeira grande decepção em relação ao que o G-20 decidiu em novembro, em Washington. Na ocasião, o grupo tentou mandar uma mensagem recusando o protecionismo diante da crise. Agora, seria o próprio governo Bush quem impediria o acordo. A idéia da OMC era realizar uma reunião de ministros no dia 13. Mas, diante de sinais de que a Casa Branca não mostraria flexibilidade, o diretor da entidade, Pascal Lamy, optou pelo adiamento. Uma nova tentativa seria a convocação de uma reunião no dia 17. Mas isso dependerá de negociações por telefone entre os ministros. "Precisamos de uma definição até o fim da semana", afirmou Roberto Azevedo, embaixador brasileiro na OMC. Para o Brasil, os Estados Unidos terão de abandonar a posição maximalista para que haja um acordo. Em Brasília, a proposta americana seria o equivalente ao País dar um "cheque em branco e assinado" para a indústria americana. "Estamos em plena crise econômica e com situações domésticas difíceis. Não há muito espaço para que aceitemos isso", afirmou o embaixador da China na OMC, Sun Zhenyu. No sábado, a OMC apresentou o que acreditava ser a base de um acordo. Mas tanto o setor manufatureiro americano como a Casa Branca alertaram que rejeitavam o acordo. Isso porque o texto não obriga os três grandes países emergentes a abrirem seus mercados para produtos industrializados dos Estados Unidos. A Casa Branca sugeriu que os três emergentes aceitassem abrir seu mercado para bens químicos e escolhessem outro setor estratégico para zerar suas tarifas. Entre as opções estão setores sensíveis aos Brasil, como eletrônicos e máquinas. O Itamaraty chegou a consultar os setores. Mas recebeu um "não" categórico do setor privado. O governo brasileiro havia aceitado o pacote que estava sobre a mesa em julho. Agora, ameaça não aderir a um acordo que exija a liberalização que pedem os americanos.

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