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EUA podem precisar de outros financiadores

Por Floyd Norris
Atualização:

Conforme os Estados Unidos acumulam déficits orçamentários recordes, os países asiáticos se mostram cada vez menos dispostos a financiar a dívida americana. Números divulgados esta semana pelo Departamento do Tesouro indicam que em junho a China reduziu em US$ 25 bilhões o volume de títulos dos EUA em seu poder, a maior quantia já vendida pelo país num só mês. Estatísticas mensais podem ser voláteis e são passíveis de revisão, e assim é arriscado elaborar conclusões com dados de apenas um mês. Em maio, a China aumentou em US$ 38 bilhões o volume de títulos, de acordo com números divulgados pelo Tesouro. Ainda assim, o declínio sublinhou que o apetite da Ásia por títulos da dívida americana não está aumentando tanto quanto antes. Isso significa que os EUA terão de procurar outros compradores, incluindo os próprios cidadãos americanos - que atualmente poupam como não fizeram durante os anos de prosperidade -, para financiar o déficit. Em conjunto, China e Hong Kong cobriram mais da metade do aumento nos títulos do Tesouro vendidos ao público - ou seja, a compradores diferentes das agências governamentais dos EUA, como o Fed e a previdência social - em 2006. Essa parcela caiu para 22% no ano passado, quando o governo aumentou sua dívida pública em US$ 1,2 trilhão, volume nunca antes registrado. Na primeira metade de 2009, China e Hong Kong adquiriram apenas 9% dos mais de US$ 800 bilhões em títulos do Tesouro vendidos. Os números correspondem tanto aos títulos do Tesouro de propriedade particular quanto aos de propriedade governamental, e transações particulares afetam os números de Hong Kong e do Japão. Mas, na China, a maioria dos títulos pertence ao governo, que acumulou tais valores em parte para preservar a taxa de câmbio do yuan ante o dólar, tornando mais atraentes as exportações chinesas aos EUA. Nos últimos meses, representantes do governo chinês demonstraram preocupação com a possibilidade de a inflação nos EUA erodir o valor dos títulos em seu poder, e falaram em diversificar os investimentos. A redução nas compras pode refletir essas preocupações, ou pode ser resultado do programa de estímulo da própria China, que envolveu grandes gastos públicos. Desde 1994, o volume em dólares dos títulos do Tesouro com China, Hong Kong, Japão e quatro outros países - Coreia, Cingapura, Taiwan e Tailândia - está em alta, mas a parcela de títulos a pagar parou de crescer. De 1994 a 2004, a parcela combinada de títulos do Tesouro em poder desses países cresceu de menos de 8% para 25%. Desde então, conforme aumentaram os déficits nos EUA, essa parcela flutuou numa margem estreita. Em junho, estava em 24,7%. * Floyd Norris é jornalista

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