O governo dos Estados Unidos quer que o Brasil convença a Índia a tomar posições mais flexíveis nas negociações da Rodada de Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC). Na semana que vem, uma delegação de diplomatas brasileiros segue para a Índia para tentar uma aproximação e fechar uma estratégia entre os dois países emergentes. Enquanto isso, um número sem precedentes de reuniões privadas está ocorrendo em várias capitais com chefes de governo e negociadores para tentar relançar o processo até fevereiro. O processo negociador na OMC está paralisado desde julho, quando os países chegaram a conclusão de que não conseguiriam superar suas diferenças, principalmente no setor agrícola. Brasil, Índia e Europa deixaram as reuniões acusando os americanos de oferecem um corte considerado como insuficiente de seus subsídios agrícolas. Washington aceitava estabelecer um teto de US$ 22 bilhões para a ajuda doméstica. Os europeus queriam uma redução para US$ 15 bilhões. Se a flexibilidade dos americanos é um ponto central para destravar as conversações, um fator que poderia ajudar Washington a oferecer uma liberalização maior seria a possibilidade de um acesso ao mercado europeu e dos países emergentes para seus produtos agrícolas. O Brasil não vê isso como um problema e a Europa dá os primeiros sinais de que poderia aceitar um corte maior de suas tarifas para próximo de 53%. Mas, nessa equação, a questão é também a de convencer os indianos a reduzirem suas altas tarifas de importação, o que Nova Délhi insiste que não fará. O tema da flexibilização da posição da Índia foi debatido durante o encontro na semana passada entre a representante de comércio da Casa Branca, Susan Schwab, e o chanceler Celso Amorim, em Nova Iorque. A Índia é um dos pilares do G-20, grupo formado ainda pelo Brasil, China e outros países emergentes. Segundo fontes em Genebra, o plano é o de aproximar o máximo possível as posições até o final do mês, quando ocorre o Fórum Econômico Mundial de Davos. Lá, um grupo de vinte países se reunirá para debater o futuro das negociações. Dependendo de como avance, a idéia então seria a de convocar uma reunião com os mais de 150 membros da OMC para início de fevereiro para então relançar o processo. Para que isso ocorra, um número frenético de reuniões estão ocorrendo. Nesta semana, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, esteve com o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, e com a chanceler alemã Angela Merkel. Merkel também esteve falando sobre o assunto com o presidente George W. Bush na semana passada e, na segunda-feira, foi a vez do presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso, insistir sobre o assunto com o presidente americano. Amorim também conversou com Lamy por telefone no final da semana passada. Pressão A pressão sobre os americanos ainda cresce a cada dia. No início da semana, os subsídios americanos à soja, milho, trigo e ao açúcar passaram a ser questionadas nos tribunais da OMC. O autor da queixa foi o Canadá, que afirma sofrer com a concorrência desleal americana. A diplomacia brasileira, que em várias ocasiões ensaiou levar Washington aos tribunais da OMC por causa da soja, acompanha de perto o caso e não exclui entrar no processo como terceira parte. No que se refere ao milho, Ottawa alega que Washington distribuiu mais de US$ 9 bilhões a seus produtores. A iniciativa coloca uma ameaça a mais sobre a política agrícola americana que, nos próximos meses, será redesenhada pelo Congresso. O objetivo dos canadenses, brasileiros e europeus é de que a nova lei venha com substantivos cortes de subsídios. Derrota Para completar, nesta terça-feira os americanos foram derrotados em outra disputa na OMC. Desta vez, a entidade deu ganho de causa ao Japão em sua queixa sobre a forma pela qual os Estados Unidos aplicavam medidas antidumping. O Brasil e outros países que sofrem com essas barreiras americanas comemoraram. Vários produtos siderúrgicos nacionais são alvos de sobretaxas nos Estados Unidos por causa de direitos antidumping.