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EUA recuam, o Brasil sofre

Por Alberto Tamer
Atualização:

Uma desaceleração nos Estados Unidos é o que o Brasil menos precisava no momento em que o governo abre uma nova frente para conter a valorização do real. O Departamento do Comércio informou na sexta-feira que o PIB americano anualizado cresceu apenas 1,3% no segundo trimestre do ano. Um resultado anêmico, disseram economistas consultados pela Reuters. E só não foi pior porque houve aumento dos investimentos privados e das empresas e exportações, favorecidas pelo dólar desvalorizado em relação a uma cesta de moedas. O consumo interno, que representa 70% do PIB, foi pífio, "cresceu" 0,1%, o menor há dois anos. Recuaram também os gastos do governo e o setor imobiliário.Se os EUA reagirem. Nós é que vamos arcar com as consequências. Os Estados Unidos só podem voltar a crescer se mantiverem e intensificarem os estímulos fiscais e monetários para aumentar a demanda, a produção e o emprego. Como os esforços fiscais estão limitados ao Congresso, onde se prefere aumentar impostos, conter investimentos e reduzir gastos do governo para não reeleger Obama, a maior força será feita na área monetária. Juros em torno de zero por cento, negativos, na verdade, se descontada a inflação, pelo menos até o fim do ano; emissão direta ou indireta de dólares, aumento de liquidez usando todos os instrumentos de que dispõem. Desde dezembro de 2008 foram emitidos nada menos que US$ 2,8 trilhões. Ninguém discorda. Mas todos os sinais de Bernanke é que a prioridade não é conter a inflação, que está controlada, mas ajudar o crescimento o econômico, a segunda obrigação do Fed. Ele e outros presidentes regionais já admitiram que a deflação foi evitada, mas a reação do mercado desapontou. Pode ser preciso mais. Tudo o que foi feito foi pouco, afirmam muitos economistas, entre os quais Paul Krugman, para o qual os US$ 2,8 trilhões não eram nada.Tudo isso, que não é novidade, se agrava no momento em que o governo brasileiro abre nova frente contra a entrada de investimentos financeiros que valorizam o real e afeta a indústria que mais importa do que importa.Com juros reais negativos previstos ainda até o fim do ano nos Estados Unidos e na Eurozona também, mais liquidez e juros de 12,5% no Brasil, num mercado seguro e liquido, pode-se prever mais investimentos financeiros chegando no País. Agora, será preciso mais esforço para organizar e administrar a fila de investidores financeiros que se forma lá fora para entrar no Brasil. Todos e nós também. Mas não são apenas os investidores externos, não. Juros baixos no mercado internacional e altos aqui, levaram as empresas a buscar recursos do exterior que são caros no Brasil, numa espécie de contramaré.Estima-se que só no primeiro trimestre elas captaram cerca de US$ 30 bilhões. O governo também. Quando digo todos, incluo o governo. Ele aproveitou a grande liquidez do mercado externo e o interesse crescente no Brasil e captou US$ 550 milhões a 4,1% ao ano para aumentar o prazo de vencimentos de títulos que venciam antes e pagavam juros mais altos.O coordenador da dívida pública do Tesouro Nacional, Fernando Garrido, informou que o Brasil recomprou US$ 2,1 bilhões da dívida pública, no primeiro semestre e vai manter essa política. O BNDES levantou este ano 200 milhões de francos suíços ao juro de 2,81%, recursos já internalizado para atender a empresas nacionais. No ano passado, foram US$ 1,95 bilhões por meio de títulos da dívida e US 1,1 bilhão junto aos organismos internacionais. O plano anunciado pelo banco é de captar US$ 3 bilhões este ano, mesmo não tendo muita demanda por moeda estrangeira. As empresas nacionais ou sediadas aqui seguem o mesmo caminho, mesmo com uma parada em julho com a crise da dívida americana, mas com projetos em andamento. Como se vê, não deixa de ser uma situação original. Todos querem vir para o Brasil e nós estamos empenhados em ir lá onde o custo do dinheiro é barato. Só que a soma não fecha. E haja comportas.

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