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EUA temem que impasse derrube os mercados

Presidente Obama convocou reunião de emergência com líderes, mas não obteve avanço

Por Denise Chrispim Marin
Atualização:

CORRESPONDENTE/ WASHINGTONA apenas oito dias do prazo final para o Congresso elevar o teto da dívida pública dos Estados Unidos, as diferenças estão se alargando entre os negociadores, sobretudo em função da campanha presidencial de 2012. Ontem, o clima de impasse criado na tarde de sexta-feira ainda prevalecia, e o otimismo estava presente apenas em declarações oficiais.Diante do novo projeto do presidente da Câmara, John Boehner, o presidente americano, Barack Obama, convocou seus principais escudeiros no Congresso, Harry Reid, presidente do Senado, e Nancy Pelosi, líder da minoria democrata na Câmara, para uma reunião emergencial no início da noite. Nenhum dos dois apresentou a proposta alternativa do partido para dissolver o impasse.O encontro durou pouco mais de uma hora e, apesar da concentração da imprensa nacional e estrangeira na Casa Branca, não houve declarações. Sob condição de anonimato, um colaborador de Obama informou que foi apresentado um resumo do estado das negociações no Congresso sobre uma proposta de consenso, capitaneada pelos democratas. O presidente teria reiterado a Pelosi e a Reid sua total oposição à elevação do teto da dívida em um volume suficiente apenas até o final deste ano, presente no projeto de Boehner.Uma das possibilidades estudadas pela Casa Branca é a mudança, pelo Senado, da principal medida do projeto de Boehner. O aumento do teto da dívida em duas etapas - uma em 2 de agosto, de US$ 1 trilhão, e outra no início de 2012, a ser objeto de novas negociações - seria substituído pelos senadores por uma cifra maior, capaz de permitir ao governo federal atravessar todo o ano eleitoral de 2012 sem o risco de nova suspensão nos seus pagamentos. A dificuldade dessa estratégia está na sua sobrevivência na segunda votação na Câmara. A demora em todo esse processo de tramitação nas duas Casas foi também considerada, em função do prazo curto demais para a aprovação do novo teto. Sem esse consenso, o Departamento do Tesouro deverá anunciar a suspensão de pagamentos federais.Em princípio, a proposta de Boehner deverá apresentar uma concessão aos democratas - o aumento de US$ 800 milhões na arrecadação federal até 2022. Essa cifra, entretanto, é US$ 400 milhões menor do que a exigida por Obama e pela base democrata no Senado.O impasse é explicado pelas ambições republicanas e democratas nas eleições de 2012 - presidencial e para o Congresso. O predomínio dos conceitos do Tea Party, a ala mais conservadora dos republicanos, tornou impossível ao partido fazer concessões na área tributária. Os radicais continuam a pressionar os líderes republicanos a incluir mais cortes de impostos na proposta de ajuste fiscal para os próximos dez anos.Sem um gesto favorável, os republicanos tendem a perder apoio nas urnas em 2012. O mesmo ocorre com os parlamentares democratas, cuja base exige o fim da redução de impostos para os americanos mais ricos e grandes empresas e cortes menos profundos no gasto com programas sociais. A cobrança do eleitorado, que não é obrigado a votar nos EUA, virá nas urnas.Na manhã de ontem, mesmo com o impasse ainda instalado, Boehner insistia na possibilidade de o Congresso, ao longo desta semana, "forjar um caminho responsável". O secretário do Tesouro, Timothy Geithner, também mostrava-se confiante em um acordo até 2 de agosto. De fato, não poderia dizer algo diferente, sob o risco de provocar pânico nos mercados logo na semana definitiva para um acordo."Os líderes do Congresso disseram que vão cumprir suas obrigações", afirmou Geithner.Apesar de também mostrar-se otimista, William Daley, equivalente ao ministro da Casa Civil no governo brasileiro, chamou a atenção na mesma manhã para o fato de a situação ter chegado a um ponto em que "os mercados ao redor do mundo todo vão questionar se o sistema político (americano) pode estar coeso e se comprometer para o bem do país". Para ele, os dois lados - democrata e republicano - ainda estão à beira da guerra.

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