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EUA usam protecionismo como estratégia de negociações, diz empresário

Por Agencia Estado
Atualização:

A nova lei agrícola dos Estados Unidos (Farm Bill) e a decisão de sobretaxar as importações de aço não são apenas medidas para proteger dois setores sensíveis da economia norte-americana. Elas fazem parte da estratégia de ter cada vez mais poder de barganha nas negociações comerciais. "Esse avanço do protecionismo é um bode a ser retirado da sala", diz o presidente da Associação Brasileira de Embalagem, do Conselho Administrativo da Dixie-Toga e do Comitê da Alca da Câmara Americana de Comércio (Amcham), empresário Sergio Haberfeld. Para o empresário, o governo norte-americano quer dizer que as duas medidas são incômodos tão grandes (um bode) que, ao serem resolvidas (retiradas da sala), parecerão uma grande concessão feita pelos Estados Unidos nas negociações da Área de Livre Comércio das Américas (Alca). "Essas duas ações aumentam o número de cartas na manga dos Estados Unidos nas negociações comerciais", afirma o professor de Relações Internacionais da PUC e do MBA de Comércio Exterior da USP, Marcos Prado Troyjo. Segundo ele, os EUA vão usar o protecionismo como moeda de troca para conseguir concessões de outros países, tanto nas negociações da Alca quanto da Organização Mundial do Comércio (OMC). "Eles estão jogando tão duro que qualquer pequena concessão que venham a fazer nos acordos, parecerá um grande avanço", ressaltou. Troyjo, diplomata de carreira licenciado, destaca que, coincidentemente ou não, as duas áreas pelas quais os EUA têm sido acusados de protecionismo (aço e agricultura) são de extremo interesse do Brasil, mas não atingem México e Canadá, parceiros no Acordo de Livre comércio da América do Norte (Nafta). O clima entre Brasil e Estados Unidos será tenso e de forte competição durante a última fase das negociações para a criação da Alca, disse o professor. Segundo ele, as negociações na Alca serão feitas dentro de um cenário pouco propício para o Brasil: os EUA estão mais protecionistas, ao passo que o País participará com a desvantagem de estar vivendo o desmantelamento do Mercosul. Haberfeld defende que o Brasil adote sanções contra os Estados Unidos. "Se o Estado da Flórida faz lobby contra nosso suco de laranja, por exemplo, os brasileiros poderiam trocar suas viagens à Disneyworld pela Disneylândia, na Califórnia. Quero ver os empresários ligados ao turismo não vão reagir contra o protecionismo do próprio Estado. Precisamos achar outros casos para retaliar os Estados Unidos", disse.

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