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Euro atinge menor valor em relação ao dólar em 9 anos

Moeda europeia valia US$ 1,19 na noite desta terça-feira, empurrada pela tensão dos investidores sobre futuro da Grécia após as eleições no fim do mês

Por Andrei Netto
Atualização:

PARIS - O euro atingiu na noite desta terça-feira o mais baixo valor em relação ao dólar em nove anos, abaixo da barra simbólica de US$ 1,20. Nos últimos 20 dias, a baixa supera 4,8%, uma queda que chegou a 12% em 2014, ante o pico de US$ 1,39 no primeiro semestre do ano passado. Segundo economistas, a baixa é causada por dois fatores principais: a perspectiva de nova crise na zona do euro causada pelas eleições parlamentares na Grécia, o risco de deflação e a expectativa de intervenção do Banco Central Europeu (BCE). Às 21h45, horário de Paris - 18h45 em Brasília -, a moeda da União Europeia era negociada a US$ 1,1904, baixa de 0,24% em relação à segunda-feira. Durante o dia, o euro chegou a flutuar abaixo disso, em US$ 1,1864, nos mercados de câmbio da Ásia, um recorde desde março de 2006. “As antecipações cada vez mais fortes de que o BCE adotará um programa de flexibilização monetária no dia 22, associadas às inquietudes políticas antes das eleições legislativas na Grécia, devem manter o euro sob pressão”, entende o economista Michel Sneyd, do banco francês BNP Paribas. Na segunda-feira, a queda da moeda europeia foi ainda mais acentuada, em razão da incerteza sobre a permanência da Grécia na zona do euro após as eleições marcadas para dia 25.

Dúvida.Casa de câmbio em Paris: possível abandono do euro na Grécia enfraquece moeda Foto: Christophe Ena/AP

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Nela se enfrentarão o atual primeiro-ministro, Antonis Samaras, e o líder do partido de esquerda Syriza, Alexis Tsipras, que prega a renegociação da dívida pública, que supera os 170% do Produto Interno Bruto (PIB), apesar dos esforços de austeridade fiscal nos últimos cinco anos pelo país.‘Grexit’. De acordo com pesquisas de opinião, Tsipras tem entre três e seis pontos de vantagem sobre Samaras, mas precisaria ainda assim montar uma coalizão de centro-esquerda para se tornar premiê. Para acalmar os mercados, a Comissão Europeia afirmou ontem que a participação da Grécia na União Europeia e na zona do euro é “irrevogável”, contrariando reportagem da revista alemã Der Spiegel, que no fim de semana afirmou que o governo de Angela Merkel já prepara o cenário do “Grexit”, como vem sendo chamada na Europa a hipótese de saída da Grécia do grupo de países. A outra razão para especulações sobre o euro é a suposta intenção do BCE de empreender uma compra em massa de ativos, em mais um passo na política de “quantitative easing”, ou de flexibilização monetária. Na prática, a medida representaria a injeção de liquidez no sistema financeiro, uma forma de combater o risco de deflação e de estimular o crescimento. Mario Draghi, presidente do BCE, já indicou a possível adoção de novas medidas heterodoxas. Em entrevista na sexta-feira, a autoridade monetária afirmou que o banco se prepara “tecnicamente para modificar no início de 2015 a amplitude, o ritmo e o caráter dos meios a utilizar se for necessário reagir a um longo período de inflação baixa demais”.

Indústria. A desvalorização do euro em relação ao dólar também tem efeitos positivos, em especial para o Produto Interno Bruto (PIB) da União Europeia, impulsionando a indústria. Empresas como a gigante aeronáutica Airbus Group, por exemplo, têm a ganhar em um momento já positivo pela queda do preço do petróleo. A companhia com sede em Toulouse, no sul da França, ganha € 2 bilhões mais por ano a cada queda de US$ 0,20 do euro, segundo os próprios cálculos. “Os países exportadores estão contentes com o euro enfraquecido, porque seus produtos se tornam mais baratos no exterior”, analisou à rede de TV Euronews o economista Fidel Peter Helmer, analista do banco de investimentos alemão Hauck & Aufhaüser.

Em Paris, a constatação é semelhante. “A baixa do euro é uma excepcional notícia. É como um imenso plano de relançamento econômico vindo do exterior que não custa nada para as finanças públicas”, entende o economista francês Nicolas Bouzou, fundador da consultoria de análise econômica Asterès. “Essas evoluções, a queda do preço do petróleo e do euro, vêm essencialmente de más fatores, como a desaceleração na China e o que se passa na Grécia, que é sério.”

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