Caso a União Europeia e o Fundo Monetário Internacional (FMI) não aceitem renegociar os prazos e objetivos firmados no último programa de socorro, assinado em fevereiro, o governo de Antonis Samaras deve ser obrigado a cortar mais € 11 bilhões em gastos públicos ou aumentar mais uma vez os impostos até outubro. A previsão, não oficial, é admitida nos bastidores por deputados dos partidos que devem participar do governo de coalizão. Só há uma alternativa para evitar o novo plano de rigor: que Bruxelas e sobretudo Berlim aceitem postergar metas estabelecidas há quatro meses - hipótese que já foi evocada na noite de ontem.A dura realidade econômica da Grécia já baterá à porta de Antonis Samaras nesta semana. Seu governo precisará desbloquear € 1 bilhão da última parcela de € 5 bilhões do plano de socorro que não foi repassado pela União Europeia no mês passado, como uma advertência pelo impasse político criado nas eleições de 6 de maio. A seguir, será preciso passar a aplicar os termos do contrato que resultou na liberação de € 130 bilhões por Bruxelas e pelo FMI. A segunda injeção de liquidez aguarda sem aplicação efetiva desde o mês de fevereiro.Renegociação. Ao longo de sua campanha, Samaras prometeu renegociar os termos desse acordo para incorporar medidas de estímulo à economia, uma forma de romper com a depressão que já fará o Produto Interno Bruto (PIB) do país recuar 20% até o fim de 2012. Ontem, em seu discurso da vitória, o futuro primeiro-ministro pediu que o estímulo ao crescimento se some à austeridade: "Este governo de salvação nacional deve trazer desenvolvimento para a economia grega e assegurar que os gregos estarão do nosso lado".De acordo com o presidente de honra do Banco Europeu de Investimentos (BEI), o grego Panayotis Genimatas, a União Europeia já tem conhecimento de que precisará negociar porque os prazos e metas do acordo de fevereiro já estão defasados. "Há objetivos a alongar, a adiar ou a cancelar. Os meios também serão revistos", antecipou ao Estado na sexta-feira.No sábado, a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, descartou a renegociação, em uma tentativa de pressionar os gregos a não elegerem Alexis Tsipras, o candidato contra a austeridade.Ontem à noite, logo após a vitória da Nova Democracia, o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Guido Westerwelle, se recusou a usar o termo "renegociação", mas admitiu que a União Europeia tende a aceitar a alteração de cláusulas do segundo plano de socorro. "Não podem ocorrer mudanças importantes nesse acordo, mas eu posso imaginar que rediscutamos as datas". Westerwelle ressaltou, entretanto, que o país terá de fazer reformas estruturais de qualquer forma. "A Grécia deve se ater ao que foi acertado. Não há saída fora as reformas."À noite, o ministro das Relações Exteriores da Bélgica, Didier Reynders, também reconheceu que Bruxelas poderá rediscutir os prazos e objetivos do plano, como forma de flexibilizar as medidas de austeridade. A flexibilização da política de rigor deve atender ao clamor popular que cresce na Grécia. Em dois anos, a coalizão radical de esquerda Syriza, que promete romper com os pactos de resgate e suspender o pagamento das dívidas, cresceu de menos de 5% a 26,7%, tornando-se a segunda força política do país. A diferença entre Samaras e seu principal adversário, Alexis Tsipras, era no final da noite de ontem de pouco mais de 170 mil votos, entre 9,8 milhões de eleitores. Na prática, Bruxelas e Berlim parecem ter entendido o recado das urnas gregas: se o arrocho continuar e o crescimento não voltar ao país, as futuras eleições devem colocar no governo em Atenas um político antiausteridade. Ontem, Tsipras reforçou essa mensagem, alertando para que Samaras não apresente novos cortes e já se colocando como o novo líder incontestável da oposição: "Vamos fazer uma oposição em benefício do povo grego. Em nenhuma hipótese vamos apoiar as medidas de austeridade. Elas não podem ir além".