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Europa tem pior recessão em 50 anos

PIB do bloco europeu confirmou previsões e caiu 1,5% no 4.º trimestre de 2008; no ano, crescimento foi de 0,8%

Por Andrei Netto
Atualização:

A "sexta-feira 13" da União Europeia (UE) confirmou as previsões que vinham sendo feitas pelo mercado. O Produto Interno Bruto (PIB) do maior bloco comercial do mundo recuou 1,5% no quarto trimestre de 2008, em relação ao trimestre anterior, quando havia decrescido 0,2%. O mesmo porcentual foi registrado na zona do euro, configurando a maior recessão dos países da região nos últimos 50 anos. Os dados foram divulgados ontem pelo Escritório Estatístico das Comunidades Europeias (Eurostat). No conjunto do ano de 2008, o PIB da zona do euro cresceu 0,7% e o da União Europeia, 0,9% - segundo projeção parcial. Em relação ao mesmo período de 2007, a taxa também foi negativa: 1,1%. "A economia da zona do euro começa a sucumbir com a queda brutal do preço das ações das grandes multinacionais, a redução dos investimentos e a produção industrial em recuo, em especial na Alemanha", disse ao Estado o economista Sylvain Broyer, analista do banco Natixis, em Frankfurt. Dos 27 países-membros, 15 divulgaram dados ontem. Sete estão em recessão, dentre os quais cinco das maiores economias: Alemanha, Reino Unido, Itália, Espanha e Holanda. Na Estônia, a atividade se contraiu 9,4% no quarto trimestre, uma queda inédita na história do país. A mais grave queda foi, de acordo com o Eurostat, a da Alemanha, cujo PIB recuou 2,1% - o pior desempenho desde a reunificação do país, em 1990. No terceiro trimestre, a economia alemã, cujos bancos foram muito atingidos pela crise do sistema financeiro internacional, já havia regredido 0,5%. "A situação se degrada rápido porque o país é grande exportador para mercados que enfrentam recessão severa, como os Estados Unidos, o Japão e a Rússia", explica Broyer. O Eurostat também confirmou a recessão no Reino Unido, onde o recuo foi de 1,5% no quarto trimestre, ante 0,6% no terceiro. A Itália também se afundou na recessão: queda de 1,8% do PIB, após recuo de 0,6%. Espanha (com -1%, depois de 0,3%), Holanda (-0,9% e -0,3%), Hungria e Portugal completaram o rol dos países em recessão. Dinamarca, Suécia e Luxemburgo, cujos dados do fim do ano ainda são desconhecidos, também podem se juntar ao grupo. Dentre as seis maiores economias, só a França escapa - provisoriamente - da recessão. O país enfrentou no fim do ano uma desaceleração de 1,2%, o maior índice desde 1974. A França só não está em "recessão técnica", definida por seis meses consecutivos de recuo, porque havia crescido 0,1% no terceiro trimestre. O cenário é sombrio e foi admitido em comunicado pelo Ministério da Economia, que revisará suas projeções de crescimento. A previsão do governo é de queda de 1% em 2009, enquanto a Comissão Europeia estima que o recuo pode chegar a -1,8% no país. "Nós sabemos que o primeiro trimestre será difícil, que teremos um 2009 difícil e o crescimento não será superior a -1%. Será provavelmente inferior a -1%", admitiu a ministra da Economia, Christine Lagarde. O alerta dos maus resultados econômicos da União Europeia já havia sido feito pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, e pela chanceler da Alemanha, Angela Merkel, que solicitaram à República Checa a convocação de uma cúpula extraordinária do Conselho Europeu para discutir novas medidas conjuntas para combater a recessão. Um dos objetivos será discutir o relançamento do consumo - uma estratégia adotada pelo primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, mas até aqui recusado pelas demais potências. "O consumo deve ter impacto nos próximos trimestres pela degradação significativa do mercado de trabalho. Por isso, conviria apoiar o consumo", avalia o economista Cyril Blesson, da consultoria Seeds Finance. A cúpula vai acontecer em 1º de março e também servirá como prévia da cúpula do G-20, marcada para o dia 2 de abril, em Londres.

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