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Europeus temem assédio de chineses a suas empresas

Governos da região pleiteiam poder de decisão na venda de empresas de setores estratégicos

Por Jamil Chade
Atualização:

Depois de décadas adquirindo empresas em todo o mundo e defendendo a queda de barreiras para os investimentos, os europeus agora temem que suas próprias companhias sejam compradas por empresas estrangeiras, principalmente chinesas, russas ou do Oriente Médio. Para frear esse apetite externo, o comissário de Comércio da Europa, Peter Mandelson, sugere que o sistema de golden share seja aplicado pelos governos do bloco, o que evitaria a venda de uma empresa considerada como estratégica para a região. "O desejo europeu de manter controle sobre indústrias importantes e de politicamente sensíveis poderia ser resolvido com o instrumento da golden share", afirmou o comissário ao jornal alemão Handelsblatt. A golden share é uma ação que daria poderes ao detentor de recusar uma venda e ainda permite que o governo tenha certos poderes dentro de um empresa parcialmente privatizada. As ações ainda permitem que os governos tenham um peso maior em decisões consideradas como estratégicas. Com a golden share, portanto, o governo não precisaria contar com a maioria dos votos dentro de um conselho de acionistas para ter sua posição aprovada. Tradicionalmente, a Comissão Européia sempre se mostrou contrária a esse mecanismo e países como o Reino Unido tiveram de modificar nos últimos anos sua forma de atuar em suas próprias empresas. Mas o temor agora é de que, com o surgimento de novos pólos de poder econômico no mundo, setores considerados estratégicos, como energia, aviação e defesa, acabem nas mãos de estrangeiros. "Estamos em fase de estudos sobre o que pode ser feito e essa (golden share) é uma das possibilidades que poderemos avaliar", afirmou o porta-voz da Comissão, Peter Power, ao Estado. Segundo ele, a negociação começará em setembro. Negócios Na semana passada, a chanceler alemã Angela Merkel já havia pedido que a Europa começasse a discutir um plano para evitar ter suas companhias adquiridas por estrangeiros. Ela ainda concordou com o presidente francês Nicolas Sarkozy em estudar o mecanismo de golden share no caso da EADS, no setor aeroespacial. O instrumento permitiria que franceses e alemães vetassem qualquer tentativa de aquisição da companhia por estrangeiros. As maiores preocupações são com os fundos formados nos últimos anos nos países exportadores de petróleo e gás e que acumularam reservas sem precedentes para alguns países. Ainda há o caso da China, que conta com reservas de mais de US$ 1 trilhão e que destinar esses recursos a projetos no exterior. Juntos, portanto, os chineses, russos e os países exportadores de petróleo teriam recursos de mais de US$ 2 trilhões para aplicar em empresas de todo o mundo. "Esses fundos governamentais são um novo fenômeno e admito que levantam novas questões", reconheceu o comissário. Mandelson, porém, alerta que a estratégia adotada pela Europa terá de ser uniforme e válida para os 27 países do bloco. "As ações devem refletir os interesses regionais, e não de cada país", disse. Ele admite que seria "desastroso" para a Europa a idéia de que o continente fosse visto como uma "fortaleza" para investidores. Por isso, caberia à Comissão Européia monitorar de que forma uma golden share poderia ser aplicada. Bruxelas deverá ter uma estratégia sobre a questão até o final do ano e, além do mecanismo de golden share, outra possibilidade sendo estudada é a introdução de um modelo parecido ao dos Estados Unidos. Em Washington, o Comitê de Investimentos Estrangeiros pode vetar acordos considerados como "sensíveis" para o país. "Temos de encontrar uma forma pela qual os europeus continuarão em controle de suas empresas, mas sem afastar os investimentos externos", completou Mandelson.

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