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Europeus travam guerra por causa da Política Agrícola Comum

Por Agencia Estado
Atualização:

Os maiores produtores agrícolas da União Européia retomaram a guerra por causa da reforma da Política Agrícola Comum (PAC). Espanha e França, de um lado, começaram esta semana a buscar o apoio de oito países do bloco europeu para a assinatura de uma "carta aberta" aos europeus contra a reforma agrícola. Espanhóis e franceses afirmam que os agricultores perderão receita. Por outro, a Grã-Bretanha e a Alemanha, que querem as mudanças, reafirmaram que, diante do "produtivismo", os europeus exigem qualidade e respeito ao meio ambiente. Para alemães e britânicos, a agricultura deve ser funcional. Isto é, cumprir o objetivo de alcançar resultados positivos de caráter econômico e outras funções adicionais, de caráter ambiental, paisagístico e de reordenação do território rural. A carta que espanhóis e franceses preparam deverá ser divulgada nas próximas semana em meios de comunicação defendendo a manutenção da PAC. O texto da carta, que ainda está em fase preliminar, surgiu durante uma reunião do Grupo de Amigos da Pesca (Espanha, França, Irlanda, Portugal, Grécia e Itália), realizada em julho e a qual foi enviada à Áustria, Finlândia, Luxemburgo e Bélgica. Na última reunião do Conselho de Agricultura da União Européia, em julho, os dez países rejeitaram a proposta da Comissão Européia para revisar, a médio prazo, a PAC. O comissário europeu de Agricultura e Pesca e autor da reforma da PAC, Franz Fischler, disse, no entanto, não acreditar que esse países assinem a "tal carta aberta" aos europeus contra a proposta da Comissão Européia. A proposta de reforma da PAC, apresentada no dia 10 de julho pela Comissão Européia, prevê um corte de 20% nas ajudas (subsídios) diretas aos agricultores, a um ritmo médio anual de 3%. Com isso, a Espanha deixaria de receber cerca de ? 1,2 bilhão por ano. O projeto propõe ainda recortar esse volume de recursos e destiná-los para o desenvolvimento rural, que será co-finaciado pelos Estados membros. A reforma da PAC, se for levada adiante, deverá beneficiar o diálogo comercial dos europeus com outros países e bloco de países, como o Mercosul. De acordo com o embaixador José Alfredo Graça Lima, chefe da missão brasileira em Bruxelas, a reforma agrícola européia servirá não só para negociar melhor um eventual acordo de livre comércio entre os dois blocos como poderá acelerar o processo negociador. "Num cenário econômico e financeiro mundial tão conturbado como o que enfrentamos, a reforma da PAC, assim como a recente obtenção da Trade Promotion Authority (TPA) por parte do Executivo norte-americano, representam uma verdadeira luz no fim túnel nas negociações comercias. São avanços e requisitos indispensáveis", disse à Agência Estado o embaixador, por telefone de Bruxelas. Além da Espanha, agricultores da França, Itália, Irlanda, Portugal e Grécia também são contrários à reforma da PAC. Todos eles temem que as mudanças venham a facilitar ou acelerar uma redução global dos subsídios agrícolas. Atualmente, a União Européia sustenta a produção agrícola com ajudas que chegam a 1/3 do orçamento, ou ? 90 bilhões por ano. O que Fischler propõe é desvincular da produção os atuais subsídios agrícolas, que hoje são calculados em função da área cultivada ou do número de cabeças de gado. Desde o dia 10 de julho, quando Fischler apresentou a proposta, a Europa ficou dividida em dois bandos, deixando claro o embate entre a França e a Alemanha. A Espanha, por sua vez, continua endurecendo sua posição, contrária à proposta de Bruxelas d e conduzir a reforma agrícola européia. Os espanhóis calculam que a reforma afetaria a receita de 376 mil agricultores ligados ao setor de cereais. A França considera indispensável um estudo prévio dos impactos da reforma agrícola, que desvincula os subsídios da produção. Para os franceses, só dessa forma será possível discutir sobre uma base séria, sem comprometer o futuro de milhões de agricultores.

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