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Consultor tributário e ex-secretário da Receita Federal

Opinião|Será crucial um incomum esforço de criatividade para lidar com a guerra na Ucrânia

Para além da tragédia, as repercussões econômicas e sociais em todo o mundo serão graves e persistentes

Atualização:

É nessa data do calendário religioso que assisto apreensivo à injustificada e insana agressão, com ameaças de uso de armas nucleares, da Rússia ao heroico povo ucraniano, ratificando o entendimento do biólogo Edward O. Wilson (1929-2021) de que nossas emoções pouco evoluíram desde a Idade da Pedra, quando cotejadas com a evolução do conhecimento científico e tecnológico.

Ninguém é capaz de prever os desdobramentos dessa agressão, especialmente quando combinada com uma insidiosa pandemia, ainda não totalmente debelada, e eventos climáticos extremos, decorrentes da desatenção com o meio ambiente. Desconheço precedente histórico de tão insólita combinação.

Destroços deixados por ataque russo em Kiev, na Ucrânia. Ninguém é capaz de prever os desdobramentos dessa agressão. Foto: Serhii Nuzhnenko/Reuters - 2/3/2022

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É certo, contudo, que, para além da tragédia, serão graves e persistentes as repercussões econômicas e sociais em todo o mundo. Para enfrentá-las, será crucial um incomum esforço de criatividade, determinação, resiliência e solidariedade, do qual o Brasil não poderá se eximir. Alienação não é uma boa escolha.

No Brasil, hoje, há escassez de lideranças públicas, pouca qualificação nos debates e elevado grau de polarização política. A despeito disso, não custa suscitar a conveniência de instalar um gabinete de crise, como já foi feito em situações muito menos graves, para construir convergências e confortar a sociedade.

Neste contexto, é totalmente inoportuna a tramitação de legislações controversas ou que causem impactos severos sobre preços, entes federativos ou regiões, como: a legalização dos jogos de azar, cujas repercussões sobre lavagem de dinheiro e corrupção nem sequer foram exploradas; a PEC dos Combustíveis, que, além de inconsistente, é incapaz de minimamente enfrentar as turbulências que se anunciam no mercado internacional de combustíveis; a PEC 110, que, desabastecida de estudos e projeções, introduz ou altera mais de duas centenas de dispositivos constitucionais, agride o federalismo fiscal em desfavor dos municípios, desloca carga tributária das indústrias não intensivas em mão de obra e instituições financeiras para o agronegócio, comércio, serviços e pequenas e microempresas, e prevê um prazo de implantação de 40 anos, sem resolver os problemas de hoje e contratando problemas futuros.

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O poeta T. S. Eliot, que inspirou o título deste artigo, fez um terrível presságio em Os Homens Ocos: “Assim expira o mundo / Não com uma explosão, mas com um gemido”. Esta é a hora de apoiar governos, instituições e pessoas que militam em favor da prevalência da civilização sobre a barbárie.

*CONSULTOR TRIBUTÁRIO, FOI SECRETÁRIO DA RECEITA FEDERAL (1995-2002)

Opinião por Everardo Maciel
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