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Ex-diretores do BC vêem efeito do juro só em 2009

Por Jacqueline Farid e Fernando Nakagawa
Atualização:

A trajetória de alta dos juros, reinaugurada em abril deste ano, só deverá se refletir em queda no ritmo de crescimento da economia no início de 2009, segundo os ex-diretores do Banco Central Alexandre Schwartsman e Ilan Goldfajn. Para ambos, os aumentos na taxa Selic deverão ser suficientes para trazer a inflação para o centro da meta (4,5%) no ano que vem. Schwartsman, que é economista-chefe para América Latina do Banco Real e ex-diretor de Assuntos Internacionais do BC, discorda da tese que muitos economistas têm defendido, de que a inflação atual é importada e responde especialmente à alta mundial nos alimentos. Segundo ele, a alta de preços no Brasil está sendo provocada sobretudo pela forte demanda doméstica, já que a economia está "superaquecida". A projeção de Schwartsman, que participou como ouvinte de seminário sobre metas de inflação realizado ontem pelo Banco Central, é que a Selic encerre 2008 em 14,75% - atualmente a taxa está em 13% -, com crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 4,7% este ano e cerca de 3,5% em 2009. O economista avalia que o Banco Central não teria outra alternativa, além de elevar a dosagem da alta dos juros, como fez na última reunião do Conselho de Política Monetária (Copom), quando a Selic subiu 0,75 ponto. Segundo ele, uma alternativa ao endurecimento da política monetária seria mudar a política fiscal. "Mas o BC não pode se dar ao luxo de esperar Godot", disse, usando a expressão que significa esperar pelo impossível. Schwartsman disse que a desaceleração da economia ainda não ocorreu porque, além do "carry over" (transferência) do forte crescimento de 2007, há uma defasagem natural entre o início da alta dos juros e a perda de ritmo da atividade econômica. Para Goldfajn, ex-diretor de política econômica do BC e sócio da Ciano Investimentos, os movimentos da economia não permitem tanta clareza nas projeções. Ele disse esperar desaceleração em 2009, mas admitiu que, diante dos atuais resultados de atividade, "que são muito robustos, ninguém sabe exatamente quando haverá desaceleração". Goldfajn preferiu não se estender na avaliação sobre a dosagem de alta da Selic ser suficiente para conter a alta inflacionária. "Só vamos saber no futuro, mas tudo indica que sim."

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