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Ex-secretário do Tesouro dos EUA não crê em calote do Brasil

Por Agencia Estado
Atualização:

O ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos Nicholas Brady disse hoje que acredita no Brasil e não trabalha com a hipótese de calote na dívida brasileira. Ele afirmou que, como presidente da Darby Overseas Investment - que faz investimentos no mercado internacional - continua investindo no Brasil. Questionado durante palestra no 23º Congresso Brasileiro dos Fundos de Pensão, em São Paulo, sobre a expectativa para o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, Brady respondeu: "Deixe o líder liderar". Para ele, a democracia no Brasil "está viva e vai muito bem". Perguntado sobre as medidas que deveriam ser adotadas para tranquilizar os investidores internacionais, o ex-secretário disse que é hoje um homem de negócios e não um economista. Sobre a possibilidade de Lula ter um governo mais protecionista, Brady afirmou que o Brasil "não pode ser uma ilha econômica". Em relação à Alca, lembrou que o Nafta (bloco que reúne os EUA, México e Canadá) proporcionou para a economia mexicana um grande crescimento, "dos dois lados da fronteira". Segundo ele, a área de livre comércio vai proporcionar um incentivo ao crescimento de toda a América Latina. Segundo Brady, em muitas regiões do mundo ouve-se uma crítica crescente contra a adoção de políticas gerais de mercado e livre comércio. Para ele, essas preocupações tiveram um papel "proeminente" na campanha eleitoral do Brasil. Brady observa que os críticos temem que tais políticas não produzam um modelo sustentável para o desenvolvimento econômico, já que pouco fizeram para combater pobreza e ajudar as populações mais necessitadas. Capitalismo democrático Ele observa também que os críticos argumentam que, por adotarem as políticas de livre mercado, os países têm se tornado "mais vulneráveis à volatilidade dos fluxos internacionais de capital". No entanto, disse defender o capitalismo democrático. De acordo com ele, os dois maiores países da América Latina - Brasil e México - tiveram uma transferência do poder político "de forma totalmente pacífica e democrática". Brady disse que, por tudo que ouviu durante a campanha, "o povo brasileiro não quer abrir mão das vantagens oferecidas pelos mercados livres". Para ele, esses mercados "proporcionam uma enorme quantidade de recursos, que ajudam os brasileiros". Segundo Brady, o capital, venha de onde vier, forma o alicerce sobre o qual o padrão de vida pode ser elevado para todos os brasileiros em todos os níveis da sociedade. O ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos afirmou que desde que fundou a empresa Darby, especializada em investimentos no exterior, tem feito mais aplicações no Brasil do que em qualquer outro país. Brady foi o responsável pelo programa de renegociação da dívida externa dos países em desenvolvimento, conhecido como Plano Brady, no final dos anos 80. Naquela ocasião, a dívida dos países endividados era de US$ 1,3 trilhão. A Darby tem ativos de US$ 500 milhões em aplicações em empresas. Brady afirma que está buscando "ativamente novas oportunidades de investimentos no Brasil". Ele afirmou também que a sua empresa tem "grande presença no País e "pretende permanecer por muito tempo". Mosaico Ele disse que a oferta de recursos internacionais deve ser encarada como um mosaico composto por múltiplas fontes, como os bancos privados e públicos, instituições multilaterais, investidores institucionais, corporações e indivíduos. Segundo ele, "essa gigantesca" reserva de fundos provenientes do mundo inteiro não opera sob uma única ordem, ao contrário, migra rápida e livremente para onde haja maior confiança, baseada em percepção de risco e oportunidade. Os setores público e privado de todos os países competem constantemente por essa enorme reserva de capital, dada a sua importância crítica no financiamento dos investimentos necessários para sustentar o crescimento econômico e o desenvolvimento. O ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos diz que o Brasil é um sucesso em atrair uma parcela substancial dos investimentos globais de capital. Ao longo dos últimos dez anos, mais de US$ 280 bilhões em capital estrangeiro vieram para o Brasil do exterior. Segundo ele, a experiência brasileira salienta "em termos dramáticos" a natureza extremamente volátil desses fluxos que se reduziram, no caso do Brasil de US$ 52 bilhões, em 1998, para uma soma prevista de US$ 22 bilhões este ano. Esses US$ 22 bilhões representam US$ 115 para cada brasileiro. "E se este capital não tivesse entrado no País, quem o teria reposto?", pergunta Brady. Ele reforça que isso mostra que os fluxos de capital estrangeiro são "extremamente importantes, altamente voláteis e imprevisíveis", o que torna difícil a sustentação do desenvolvimento econômico se for dependente do capital externo. Destino menos atraente O ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos disse que o Brasil deve evitar medidas que fariam do País "um destino menos atraente". "Se isso acontecesse, o desincentivo se aplicaria não somente ao capital estrangeiro, mas também aos investimentos nacionais. Não podemos nos esquecer que os brasileiros também podem investir seus recursos em outras partes." O ex-secretário do Tesouro dos Estados Unidos disse que houve uma forte retração no fluxo de capital internacional e que o fortalecimento dos mercados de capitais dos países latino-americanos é "imprescindível". "É nessa área - desenvolvimento de capitais domésticos - que a maioria dos países em desenvolvimento não progrediu e criou uma dependência difícil de ser gerenciada nos fluxos de capitais externos", disse Brady. Para dificultar a situação do Brasil, o setor privado enfrenta uma forte concorrência por parte do governo no acesso ao escasso capital disponível "e o governo está ganhando esta partida". Brady observou que isso se torna evidente quando se observa que a principal atividade dos bancos brasileiros é emprestar dinheiro ao governo. Fundos de pensão Isso também é uma realidade no caso dos fundos de pensão brasileiros, que possuem de 50% a 60% dos ativos em títulos do governo. O ex-secretário do Tesouro dos EUA destacou que, no seu país, os fundos de pensão têm menos de 5% de ativos em títulos do governo norte-americano. O meio mais efetivo para se reduzir a vulnerabilidade de um país aos choques econômicos precipitados pela retirada dos investidores e credores estrangeiros, segundo Brady, é o desenvolvimento "de um vibrante mercado de capitais domésticos". A indústria de fundos de pensão, disse, teria assim um papel vital a desempenhar no fortalecimentos do mercado de capitais. Ele acrescentou que o crescimento na indústria dos fundos de pensão iria estimular a poupança interna e canalizar esse capital para empresas rentáveis e em expansão e, nesse processo, traria milhões de novos investidores ao mercado de capitais.

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