
05 de outubro de 2015 | 11h00
(Atualização em 06/10/2015 às 08h20)
PARIS - Um segurança entrou em coma e dois executivos da Air France foram cercados, agredidos e tiveram parte de suas roupas arrancadas nesta segunda-feira, 5, em Paris, ao apresentarem um programa de demissões que atinge 2,9 mil funcionários. O tumulto ocorreu em uma das sedes da companhia, no momento em que os representantes sindicais invadiram uma reunião do Comitê Central da Empresa, órgão que agrupa representantes da direção e dos trabalhadores. Para fugir, os diretores foram obrigados a pular uma grade em frente às câmeras.
O clima entre a direção da empresa e sindicalistas piorou na sexta-feira, quando expirou o prazo fixado pelo comando da companhia para chegar a um acordo para ampliação da carga horária sem aumento de salário.
Insatisfeito com a proposta, o Sindicato Nacional de Pilotos de Linha (SNPL), o mais importante do setor no país, bateu o pé contra o aumento de 17% das horas de voo – o que, segundo a empresa, colocaria seus profissionais no mesmo nível de produtividade dos de concorrentes europeias como Lufthansa e British Airways.
Com isso, a direção decidiu que anunciaria um “plano B” para equilibrar seu balanço. Entre outras medidas, a proposta prevê a demissão de 2,9 mil funcionários – incluindo pilotos e funcionários de solo –, além da extinção de rotas de longa distância deficitárias e a devolução ou venda de 14 aeronaves. O objetivo dos cortes é atingir o nível de produtividade das empresas europeias e enfrentar a concorrência de gigantes do Golfo Pérsico.Após o início do tumulto em meio à reunião, o diretor-presidente do grupo Air France-KLM, Alexandre de Juniac, deixou a sala e não enfrentou a fúria dos sindicalistas da Central Geral dos Trabalhadores (CGT). Mas o diretor de recursos humanos, Xavier Broseta, e o diretor de atividades de longa distância, Pierre Plissonnier, não puderam escapar. Cercados por uma multidão, foram agredidos com chutes e socos e tiveram suas camisas rasgadas. Para escapar, os dois executivos tiveram de pular uma grade.
Fúria. A violência deixou sete pessoas feridas, entre os quais um segurança que chegou a ficar em coma por alguns minutos depois de ser atingido pelos manifestantes. Horas depois do ataque, Broseta concedeu entrevista na qual se disse chocado pelos acontecimentos. “Mas não quero que a culpa seja imputada ao conjunto dos trabalhadores da Air France”, afirmou.
As imagens das agressões chocaram a opinião pública e levaram o primeiro-ministro da França, Manoel Valls, a condenar os atos durante uma viagem oficial a Tóquio, no Japão. “Nada justifica tal tumulto”, declarou, pedindo o retorno do diálogo entre as partes.
À noite, De Juniac informou que a companhia segue aberta a discutir um acordo com pilotos e comissários de bordo, mas desde que a tensão seja reduzida. Caso contrário, o plano B seguirá em curso. “A violência às margens do Comitê Central da Empresa não muda em nada a vontade da direção de seguir em frente”, advertiu o diretor-presidente da Air France-KLM.Outros sindicatos que atuam na companhia também se pronunciaram pela retomada das negociações e criticaram a atitude dos sindicalistas envolvidos nas agressões.
Laurent Berger, presidente da Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), de perfil reformista, defendeu a retomada das negociações. “Nós privilegiamos o diálogo para superar as dificuldades e combater a violência. É isso o sindicalismo”, disse.
Também o SNPL, sindicato dos pilotos, pediu a intervenção do governo para que sejam “retomadas as condições para um diálogo social pacificado”. No ano passado, o mesmo sindicato protagonizou uma greve que causou prejuízo de € 300 milhões.
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