No segundo em que Robert Iger deixou o cargo de diretor executivo da Disney, na terça-feira – quase dois anos antes do esperado –, começaram fofocas em Hollywood.
“O rei abdica ao trono!”, um proeminente produtor de cinema escreveu para uma repórter. “Surpreendente e desconcertante”, disse o executivo de um estúdio rival por e-mail. Outro perguntou: “Será que Iger vai concorrer à presidência?”.
E aí veio a segunda rodada de perguntas: quem é Chapek?
Bob Chapek, que logo substituiu Iger, é bem conhecido dentro da Walt Disney Co., onde há 27 anos trabalha em silêncio, sobretudo em áreas pouco charmosas, como produtos de consumo e distribuição de filmes. Mais recentemente, dirigiu a divisão da Disney que administra parques temáticos e navios de cruzeiro. Mas Chapek não chega a ser um grande nome. Para grande parte de Hollywood, na verdade, é um desconhecido.
Chapek, 60 anos, prefere fugir de uma estreia no tapete vermelho para passar uma noite tranquila em casa, dizem amigos. Ele mora nos arredores de Los Angeles, longe dos elegantes bairros de Brentwood e Pacific Palisades, onde reside a maioria dos figurões. Ele e sua esposa, Cindy, estão casados há 38 anos. Nos eventos da mídia, como a abertura do Toy Story Land em 2018, na Walt Disney World da Flórida, Chapek cumpre cordialmente seu papel – nesse caso, fazer micagens com o Buzz Lightyear no palco. Mas se sente melhor quando não é o centro das atenções.
Chapek, conhecido como “Bob C” na Disney, quase não tem experiência na televisão, um negócio de US$ 25 bilhões anuais para a Disney e onde Iger – um cara carismático – fez nome antes de assumir o cargo de diretor executivo em 2005. Mas não é o caso de comparar Chapek a Iger.
É razoável esperar que ninguém ocupe perfeitamente o lugar de Iger. Quando Iger assumiu o cargo, a Disney tinha dois estúdios de cinema. Agora, tem oito. Em 2005, a empresa tinha dois navios de cruzeiro. Em breve terá sete. O número de visitantes anuais a parques temáticos cresceu de 115 milhões para 159 milhões no mundo todo.
A Disney possui dois novos serviços de streaming, o Hulu e o Disney Plus, que estão criando programação original para competir com Netflix, Amazon Prime Video e HBO Max.
E, apesar de seu perfil despojado na indústria de entretenimento, Chapek não é uma escolha surpreendente. Iger sinalizou que Chapek era um dos principais candidatos em seu livro de memórias, The Ride of a Lifetime (O passeio de uma vida, em tradução livre), publicado em setembro. A certa altura, Iger relembra um momento de 2016, quando Chapek enfrentou vários desafios ao mesmo tempo – abrindo o Shanghai Disney Resort, enfrentando uma ameaça de segurança secreta na Disney World na Flórida e lidando com a morte de uma criança (por ataque de jacaré) no lago da Disney World.
Sob o reinado de Chapek, a divisão de parques temáticos se valeu de expansões, novas taxas (como cobrança por estacionamento em alguns hotéis da Disney World) e preços de ingressos mais altos (com aumentos anuais de até 9% para entradas diárias) para gerar cinco anos consecutivos de crescimento. A divisão gerou US$ 6,8 bilhões em lucro operacional no ano passado – 46% da receita total da Disney.
“Ele é elegante e, ao mesmo tempo, pode vestir um par de jeans e uma camisa de flanela para ficar bem próximo das pessoas comuns”, disse Gill Champion, presidente da POW! Entertainment, que tem entre seus fundadores a lenda dos quadrinhos Stan Lee. “Vive e respira o estilo de vida da Disney”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU