PUBLICIDADE

'Existem ameaças para o sistema econômico'

Por Luiz Guilherme Gerbelli
Atualização:

A avaliação do chefe do Centro de Estudos Monetários do Ibre/FGV, José Júlio Senna, é de que a atual turbulência tem como pano de fundo o enfraquecimento da economia internacional. "O mundo emergente está numa desaceleração muito clara, e o mundo desenvolvido está crescendo abaixo da sua média histórica", afirmou. Qual é a avaliação do sr. sobre o cenário atual? Vejo com preocupação. Continuo acreditando que a principal questão é a fraqueza da economia mundial. O mundo emergente está numa desaceleração muito clara, e o mundo desenvolvido está crescendo abaixo da sua média história desde a fase aguda da crise. O sr. poderia detalhar? A zona do euro apresenta um crescimento pífio. O Japão vinha ensaiando uma recuperação, que foi abortada. A China está em desaceleração. As únicas duas economias que vão bem, com um crescimento razoável, aceitável, são os Estados Unidos e o Reino Unido. Por que essas duas economias conseguiram se recuperar? Uma investigação sugere que são os países onde a desalavancagem do setor privado encontra-se em estágio avançado. É sempre muito difícil dizer o que é um alavancagem normal, que não produz estrago maior na economia, mas o setor privado havia se endividado muito nos EUA e houve uma redução. Por uma série de fatores, as famílias se readaptaram. A dívida privada das famílias como proporção do PIB também cedeu no Reino Unido. Na Europa e na zona do euro, existe um problema de um excesso de dívida. Quando os sinais de desaceleração começaram a aparecer? Eles começaram a aparecer em meados desse ano, quando ficou mais claro que o Japão tinha cometido um equívoco com um aumento do imposto em abril, e as expectativas de inflação na zona do euro começaram a dar uma encolhida muito forte. De lá para cá, a queda do preço do petróleo é superior a 40%. O sr. vê alguma ameaça para o sistema econômico? Como o começo de tudo isso é a fraqueza mundial, acho que existem ameaças sérias para o sistema econômico. Eu desconfio que a queda internacional do preço do petróleo possa ser prejudicial para a economia mundial. Tem muita dívida por aí (na zona do euro). Dívida, de modo geral, é prefixada. E a fraqueza do mundo está derrubando as expectativas de inflação. Com o petróleo vindo muito para baixo, aumenta o risco de deflação. A combinação de crescimento negativo de preços com dívida prefixada é horrorosa, é um mistura que não dá certo. Por quê? As empresas pagam suas dívidas cobrando pelos seus produtos e serviços. Se os preços começam a cair, o esforço das empresas para pagar uma mesma dívida prefixada é muito maior.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.