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Expansão de albergues para turistas divide o setor

Por Renato Jakitas
Atualização:

A explosão no número de concorrentes associada à crise instaurada na Europa e nos Estados Unidos divide opiniões e coloca em xeque a sobrevivência dos albergues para turistas na cidade de São Paulo. Também chamado de hostel, esse tipo de acomodação experimenta uma fase de plena expansão na capital. Em pouco mais de uma década, o número de opções saltou de um único empreendimento para 40, a maioria deles inaugurados nos últimos quatro anos.Além de visibilidade e investimentos, a movimentação trouxe polêmica para dentro do setor. De um lado, empreendedores e especialistas que celebram uma possível solução para a carência de hospedagem econômica na cidade. De outro, empresários mais antigos alertam para o que consideram um equivoco estratégico. Para eles, o volume de oferta atual supera a demanda de clientes. "Estamos passando por um momento difícil, uma fase muito complicada para trabalhar", afirma Deborah Cavalieri, sócia do Sampa Hostel, no bairro da Vila Madalena, com 37 leitos e sete quartos. "Quando abrimos nosso negócio em 2008, éramos nós e apenas outro na região. Mas, hoje, tenho cinco concorrentes em poucos quarteirões. E não estou vendo o número de hóspedes acompanhar esse crescimento todo", destaca.Deborah aponta as contas recém-fechadas como fundamento para a preocupação. "Em julho de 2011, nossa taxa de ocupação foi de 84%. Em 2012, foi de 68%. Está ruim e caindo consideravelmente a cada ano."Mudança de perfilSávio Mourão, presidente da Associação Paulista de Albergues da Juventude (APAJ), engrossa o coro dos descontentes. Além da concorrência, ele diz que o setor também sofre com as taxas de desemprego na Europa e nos Estados Unidos, o que fez secar o número de viajantes estrangeiros no País. "Há dois ou três anos, os estrangeiros eram 80% do nosso público. Hoje, ele divide a importância com o brasileiro, que está viajando mais", diz.Mourão explica que o segmento de hostel perde com a substituição do turista de fora pelo interno. O brasileiro, diz, não apresenta a mesma predisposição do estrangeiro por acomodações e banheiros coletivos, pontos característicos de albergues. "Nossos quartos individuais ficam sempre lotados e os coletivos com pouca gente. Isso derruba nosso rentabilidade", conclui.DemandaDo outro lado da recepção, há quem minimize o tom preocupado e prefira ressaltar as oportunidades. Marcelo Picka Van Roey, coordenador geral dos hoteis-escola Senac, é um desses. Para o especialista, as baixas relatadas pelos donos de albergues são momentâneas. O mercado, analisa, sofre com o impacto da explosão da oferta. Mas tende a absorver o "golpe" até a Copa do Mundo. "Isso aconteceu com os flats em 2001. Houve um boom de ofertas, a taxa de ocupação caiu vertiginosamente, mas o setor se recuperou e, hoje, segue bem", destaca. Maria Doroteia Braz, superintendente do Hostel International São Paulo, bandeira que congrega 102 unidades do País, três deles em São Paulo, também está otimista, "Eu acho que há uma choradeira por parte de alguns empresários", afirma. "Existem cerca de 1,6 mil leitos econômicos na cidade. Você realmente acha que esse número é maior que o potencial do mercado? Claro que não", define a executiva.Dominici Nunes, dono do primeiro albergue lançado na cidade, em 1998, não é tão enfático quanto Maria Doroteia. No entanto, com quatro empreendimentos (três em São Paulo e um no Guarujá), não reclama dos negócios.Como os demais empresários, ele observou a chegada da concorrência, sentiu na pele a queda de estrangeiros, mas manteve seus estabelecimentos com lucratividade. O mais rentável deles, a Pousada dos Franceses, na região da Avenida Paulista, supera os números de mercado e fatura R$ 60 mil mensais. O segredo, conta o empresário, está na gestão e na adoção de uma estratégia para acompanhar as mudanças do setor. "Eu apertei as contas. Também apostei na demanda do turista brasileiro. Ofereço cada vez mais quartos com banheiros individualizados. Os hóspedes gostaram e agora nossa casa está sempre lotada."Capital paulista recebeu 40 estabelecimentos em menos de uma década; proprietários alertam que oferta supera demanda

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