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Explicação sobre 'caixa preta' é 'marco zero' para o BNDES, diz novo presidente da instituição

Gustavo Montezano afirmou não ter uma opinião formada ainda sobre o tema, mas garantiu que coordenará pessoalmente esse processo; posse foi oficializada nesta terça-feira, 16

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Por Fabrício de Castro e Eduardo Rodrigues
Atualização:

BRASÍLIA - O presidente do BNDES, Gustavo Montezano, disse nesta terça-feira, 16, que as dúvidas sobre a chamada “caixa preta” do BNDES atrapalham a formação de estratégia do banco e que a imagem da instituição de fomento é questionada. A instituição vive de credibilidade, segundo ele. 

“Com foco empresarial, é importante termos uma explicação sobre a ‘caixa preta’ do BNDES, como marco zero. Precisamos tirar essa nuvem negra de cima do banco”, avaliou. “Tenho o dever de investigar todo e qualquer tema que bloqueie o banco de desenvolver sua estratégia de serviços”, acrescentou.

O ministro Paulo Guedes, Jair Bolsonaro e Gustavo Montezano, em evento no Planalto. Foto: Joedson Alves/EFE

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Montezano tomou nesta terça posse na presidência do banco de fomento, em cerimônia no Palácio do Planalto. Antes disso, ele esteve na Secretaria de Desestatização do Ministério da Economia. "Fiquei triste quando cheguei a Brasília seis meses atrás", disse Montezano. "Foi lastimável o que fizeram com as contas públicas. O País está quebrado", disse.

Ele disse não ter uma opinião formada ainda sobre o tema, mas garantiu que coordenará pessoalmente esse processo. “As informações são completamente desencontradas. Em dois meses devo formar uma opinião sobre essa questão. Dois meses é um tempo curto, mas é importante fazer isso o mais rápido possível”, respondeu.

Além disso, evitou adiantar qualquer ponto sobre essa varredura que deverá ser feita nas contas do banco e disse estar aberto a qualquer tipo de conclusão. “O que sairá disso eu prefiro não dizer agora. Nosso objetivo é ser transparente. Se, no final, alguém não ficar feliz ou contente, isso não vai nos forçar a revelar informações que não sejam consistentes.”

O novo presidente do BNDES acrescentou que não assume o banco com a função de julgar gestões anteriores, mas com a missão de fazer a instituição se desenvolver. “Sou um executivo. Não sou juiz, nem político. Não vou entrar no mérito do que os outros presidentes fizeram, se foi errado, eu vou fazer do meu jeito”, completou.

Para Montezano, apesar dos principais dados das operações do banco já estarem disponibilizados no site da instituição, é importante explicar essas informações para a população. “O que estamos nos propondo a fazer é explicar a ‘caixa preta’. Ainda paira uma dúvida substancial na cabeça de população e políticos sobre isso”, concluiu.

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O presidente do BNDES evitou comentar as investigações e conclusões da CPI do BNDES e da Operação Lava Jato sobre o banco.

Serviços 

O presidente do BNDES, Gustavo Montezano, afirmou que a nova instituição será um banco de serviços do Estado. Montezano disse que pretende atuar nas áreas de privatizações, concessões, e desinvestimento. "O BNDES será menos banco e mais desenvolvimento", disse.

De acordo com o novo presidente do banco de fomento, o BNDES será peça fundamental na recuperação do Estado. "O foco do banco não será o lucro, será a sustentabilidade financeira. Este é o principal norte." Montezano afirmou ainda que o banco atuará sempre com transparência. Ele pontuou que momentos de transição de gestão são sempre delicados para quaisquer empresas.

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Ao tratar da eleição do presidente Jair Bolsonaro, ele afirmou que a eleição de um deputado federal "à margem do poder político" é uma "disrupção política". Além disso, afirmou que o movimento de revolução tecnológica está varrendo as estruturas. "Em 5, 10, 20 anos, a forma de o governo interagir com o cidadão não será como hoje", disse. "Pessoas jovens, com visão moderna de mundo, terão muito a contribuir."

Participação na Bolsa 

Montezano afirmou que boa parte da carteira de ações de R$ 110 bilhões do banco de fomento são meramente especulativas. Uma das cinco metas colocadas por ele para a instituição é acelerar a saída desse capital na Bolsa.

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“São ganhos financeiros sem qualquer devolução de valor para a sociedade. Deixar o dinheiro na Bolsa não é o melhor investimento”, avaliou. “Já quando você constrói infraestrutura de saneamento, por exemplo, o retorno consolidado para a sociedade é incomparavelmente melhor”, completou.

O presidente do BNDES garantiu ainda que a devolução de R$ 126 bilhões ao Tesouro Nacional neste ano não depende dessa venda de ações. Montezano não detalhou o volume do desinvestimento nesse capital previsto para 2019, mas reiterou que a ideia é acelerar a saída da Bolsa.

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“Não tem prazo. Quanto vamos vender esse ano ainda não está decidido. Queremos ter um plano de desinvestimento até o fim do ano”, explicou. “Não estou afirmando que vamos vender toda a carteira de R$ 110 bilhões, mas a intenção é essa. Vamos vender o que o mercado suportar” afirmou.

Para o presidente do banco, o bom investidor precisa entender as janelas de mercado. Por isso, não há ainda um plano exato para a venda dos papéis de cada empresa. Segundo ele, a realocação de portifólio do banco será feita seguindo as condições de mercado. “O que ocorre hoje no mercado de ações é momento positivo. Acredito que o Brasil será um porto seguro para investimentos e que o mercado continuará nesta tendência positiva”, avaliou.

Apesar do cenário positivo, o BNDES tem cerca de R$ 17 bilhões em ações da Vale, que têm sido afetadas pelos recentes incidentes com barragens. “Não consigo comentar se é um momento bom para vender ações da Vale”, esclareceu. “Mas será que vale a pena esperar dois anos para a recuperação das ações? Quanto vale dois anos de uma criança fora da escola, ou dois anos de uma rua sem saneamento e iluminação? É preciso fazer essa conta, essa reflexão”, acrescentou.

Montezano disse ainda que não há ainda uma decisão sobre fechar ou não o BNDESPar. “É muito cedo para fazer qualquer comentário sobre esse sentido”, respondeu.

Ainda assim, o presidente do BNDES disse que dificilmente o banco de fomento voltará a investir em ações. Se isso acontecer, será apenas em casos nos quais haja “benefícios laterais” para a sociedade. “Se for meramente especulativo, é pouco provável”, concluiu.

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Tesouro Nacional 

O presidente do BNDES falou que a devolução de R$ 126 bilhões ao Tesouro Nacional este ano é parte da conclusão de um processo já iniciado por gestões anteriores do banco. O BNDES já devolveu R$ 40 bilhões ao Tesouro em 2019, restando cerca de R$ 86 bilhões a serem pagos até dezembro.

“Esses recursos fazem parte dos R$ 500 bilhões aportados pela União ao banco de fomento em uma estratégia que não funcionou. Além desses R$ 126 bilhões, ainda faltariam cerca de R$ 270 bilhões do volume total, que idealmente gostaria de devolver até o final do meu mandato”, completou.

Já a devolução dos R$ 36 bilhões em Instrumentos Híbridos de Crédito e Dívida (IHCD) ficaria para depois da devolução dos outros R$ 270 bilhões em aportes.

Para Montezano, a devolução dos recursos não atrapalharia o novo posicionamento do banco de fomento. “O banco quer se posicionar menos como um banco de empréstimos e mais como um banco de serviços ao Estado. O BNDES será uma espécie de consultor financeiro para o governo federal e os governos estaduais, auxiliando na modelagem financeira de privatizações”, explicou.

Nesse novo modelo, acrescentou, o BNDES se remuneraria por meio de comissões, e não através do recebimento de juros. “Os governos hoje não têm dinheiro, herdaram finanças vergonhosas. A ideia é o time do BNDES focado a ajudar a reestruturação das finanças desses governos” acrescentou.

O presidente do banco disse não enxergar a necessidade de prestar esse tipo de serviço de consultoria financeira para agentes privados que, segundo ele, já estariam bem atendidos pela banca privada.

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Além disso, para Montezano, não serão necessários empréstimos do BNDES para o financiamento das operações de privatizações planejadas pelo governo. “Os bancos privados já ocupam esse espaço. Já nas concessões de longo prazo, eventualmente será necessária a participação do banco. O BNDES continuará ativo, principalmente em infraestrutura e saneamento. O banco tem recursos para isso, mesmo sem o dinheiro do Tesouro”, concluiu.

Serviços prestados ao Estado

O presidente do BNDES, Gustavo Montezano, afirmou que a instituição será um banco de serviços do Estado. Montezano afirmou que pretende atuar nas áreas de privatizações, concessões, e desinvestimento. "O BNDES será menos banco e mais desenvolvimento", disse.

"Fiquei triste quando cheguei em Brasília seis meses atrás", disse Montezano. "Foi lastimável o que fizeram com as contas públicas. O País está quebrado", disse.

De acordo com o novo presidente do banco de fomento, o BNDES será peça fundamental na recuperação do Estado. "O foco do banco não será o lucro, Será a sustentabilidade financeira, e não lucro. Este é o principal norte." Montezano afirmou ainda que o banco atuará sempre com transparência. Ele pontuou que momentos de transição de gestão são sempre delicados para quaisquer empresas. 

Nomes alinhados com ministério da Economia 

O presidente do BNDES, Gustavo Montezano, disse que todos as indicações de nomes para o banco de fomento estão sendo alinhadas com o Ministério da Economia. “O banco tem que remar na mesma direção do governo”, respondeu.

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Montezano disse ainda que a sua relação com os funcionários do banco tem sido excepcional. Ele relatou diversas reuniões já realizadas na instituição, com todos os departamentos e superintendências, chegando a cerca de 150 pessoas.

“As pessoas são muito patriotas. A vontade de ajudar o Brasil está muito presente no banco”, afirmou. “Quando perceberem que o BNDES voltará a ter importância na política econômica do Brasil, todos continuarão muito motivados”, completou.

Apesar da redução de desembolsos para cerca de R$ 70 bilhões por ano, Montezano argumentou que o BNDES não será “um banco menor”. “O BNDES terá condições de impactar muito mais do Brasil do que o que ele fez nos últimos anos”, concluiu. 

R$ 70 bilhões por ano

O presidente do BNDES, Gustavo Montezano, falou que o banco de fomento deve se acomodar em um patamar de desembolsos de cerca de R$ 70 bilhões por ano. “Isso ainda é bastante dinheiro”, argumentou.

O presidente do BNDES reforçou ainda que o banco continuará atuando em operações de longo prazo em infraestrutura. “E continuará lucrando com isso”, frisou. “O banco tem que ser avaliado não pelo volume que ele desembolsa, mas pelo volume de recursos que ele atrai para o Brasil em investimentos”, completou.

Ele lembrou que tem como meta a formatação de um plano trianual para a instituição. “Não estamos aqui para fazer lucro. Provavelmente o lucro do BNDES no futuro será menor do que o lucro que tinha no passado. Mas queremos que a sociedade tenha um lucro maior com a atuação do banco”, acrescentou.

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Montezano explicou ainda que as devoluções de recursos do BNDES ao Tesouro Nacional não diminuem o capital do banco, pois saem do caixa financeiro da instituição. “O Índice de Basileia do BNDES é de cerca de 30%, muito acima de qualquer grande banco brasileiro”, completou.

Para o executivo, o ritmo de planejamento das privatizações nos primeiros seis meses de governo estaria normal. “Estamos confiantes de que estamos fazendo as coisas no ritmo correto. Não adianta atropelar, também estamos lidando com seres humanos. É como vender um apartamento, leva tempo. Ano após ano veremos esse ritmo crescer”, avaliou.

O presidente não confirmou a indicação do vice-presidente financeiro da Caixa, André Laloni, para uma diretoria do BNDES. “Laloni é funcionário da Caixa, não discutimos hoje a sua vinda para o BNDES”, respondeu.

Odebrecht

O presidente do BNDES, Gustavo Montezano, não respondeu sobre a possível redução da dívida da Odebrecht com o banco de fomento nem sobre uma eventual execução das ações da Braskem. “Não tenho todas as respostas sobre essa operação. A Odebrecht passa por um processo de recuperação judicial e não sei se legalmente poderia fazer declarações sobre isso no momento”, limitou-se a responder. 

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