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Exportação afeta 50% da queda da produção

Efeito indireto multiplica impacto da retração do comércio exterior

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Por Fernando Dantas
Atualização:

A queda das exportações brasileiras foi responsável por metade da drástica redução da produção industrial do País entre setembro e março, na esteira da crise econômica global. Essa estimativa está em um estudo da série Visão do Desenvolvimento, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No período, a produção industrial recuou 16%, descontadas as variações sazonais. Entre setembro e dezembro, a queda foi ainda maior, de 19%. O cálculo vai além das primeiras estimativas do mercado, segundo as quais a retração nas exportações explicaria até 30% da violenta queda da produção industrial. A participação das exportações no valor da produção em 2008 foi de apenas 20%. Mas, como o recuo das vendas externas também afeta a produção de bens intermediários e bens de capital utilizados pelas empresas exportadoras, o impacto foi muito maior, segundo os economistas Fernando Pimentel Puga, Marcelo Machado Nascimento e André Albuquerque Sant?Anna, do BNDES. Isso mostra que o efeito não deve só levar em conta a exportação de bens finais. Para fazer o cálculo, os economistas utilizaram a matriz insumo-produto de 2005, a mais recente disponível. Trata-se de uma ferramenta macroeconômica que mede os efeitos da variação de produção de um segmento específico nos demais setores da economia. A conclusão é que 50,4% da queda da indústria doméstica entre setembro e março deriva da demanda externa, com 30,4% de efeito direto (exportações) e 19,9% de efeito indireto (intermediários e bens de capital utilizados por empresas exportadoras). No caso da indústria de transformação, o impacto foi ainda maior. Segundo a estimativa dos economistas, 55% da contração foi explicada pela queda nas exportações, sendo 32,8% de efeito direto e 22,2% de indireto. SETORES O trabalho do BNDES também analisa o impacto da diminuição das vendas externas nos diferentes setores da indústria. "Os maiores efeitos indiretos são nos setores de bens intermediários, como metalurgia, borracha e plástico", diz Puga. Na metalurgia básica, por exemplo, houve queda de produção de quase um terço entre setembro e março. Do total, apenas 11% decorreram da diminuição da exportação direta. Outros 30% são derivados dos efeitos indiretos. O setor de metalurgia básica destina 62,4% da sua produção para o consumo intermediário da indústria nacional. Assim, além de exportar menos, a área deixou de vender produtos intermediários para empresas que viram suas exportações caírem. No caso dos produtos químicos, observou Puga, as exportações diretas subiram 2,8%, mas, mesmo assim, a queda no desempenho da exportação surtiu efeito negativo no setor, cuja produção caiu 5% entre setembro e março. Os fabricantes de produtos químicos exportam apenas 11,6% da sua produção. Mas o setor fornece insumos para diversos segmentos da economia, como os plásticos utilizados em muitos produtos exportados. Dessa forma, o efeito indireto da queda das exportações foi equivalente a 32% do recuo da produção do setor. Já o segmento de borracha e plástico só destina ao exterior 9,3% da sua produção. Mas, de setembro a março, houve queda de um quinto na produção nacional. Do total dessa contração, somente 11% são explicados pela queda das exportações. O efeito indireto foi responsável por 30% da perda de produção. No caso de papel e celulose, as vendas domésticas chegaram a aumentar, mas o setor como um todo teve uma queda de 5%, puxada inteiramente pela demanda externa. Uma parcela de 42% dessa contração ocorre por efeito indireto da queda das exportações. Puga lembra que celulose e papel são usados na produção de embalagens de muitos produtos destinados ao mercado externo. A retração geral das exportações, portanto, afeta indiretamente o setor. Mesmo em segmentos fora do setor de intermediários houve perda de produção por efeito indireto da queda do comércio exterior. Nos veículos, por exemplo, 42% da queda da produção no período (de 29%) é explicada pelo setor externo, sendo 31% por resultado direto da queda nas vendas externas e 11% por conta do efeito indireto. Um exemplo de como a redução das vendas externas afeta o setor de veículos, nota Puga, são os caminhões que deixaram de ser comprados para conduzir produtos exportados do seu local de fabricação até os portos. EM CASCATA Metalurgia: exportações do setor caíram 13,9%, mas produção recuou 30% - um terço da queda na produção ocorreu por efeito indireto da retração nas vendas externas do País Produtos químicos: setor apurou aumento nas exportações de setembro a março. Mesmo assim, a produção industrial caiu 6%, sendo 32% desse total por efeito da queda das exportações Borracha e plástico: exportações do setor caíram 23,9% e produção recuou 21%. Mas 30% da queda é atribuída ao fator indireto Papel e celulose: houve queda de 12,1% nas exportações do setor e de 5% na produção, sendo 63% por influência indireta

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