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Exportação de produtos básicos é a maior desde 1986

Por Rodrigo Petry
Atualização:

Os produtos básicos representaram 32,1% das exportações brasileiras entre janeiro e outubro, a maior participação para o período desde 1986, quando a categoria totalizava 33,01% da pauta. Ao mesmo tempo, as vendas externas de manufaturados perderam espaço e atualmente absorvem 52,3% do montante, o menor índice desde 1983 - 50,8% -, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Para especialistas, a valorização dos preços das commodities e a queda acumulada de 18% em 2007 do dólar ante o real provocam o avanço dos básicos sobre os manufaturados. "A taxa de câmbio, visivelmente, está impedindo a exportação dos manufaturados", afirma o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro. Para ele, a queda da participação destes itens nas vendas externas "é uma volta ao passado". "As exportações brasileiras estão involuindo, ao invés de evoluir. É como se o Brasil não tivesse se industrializado nos últimos 20 anos", completa Castro. O economista da Fundação Centros de Estudos do Comércio Exterior (Funcex) Fernando Ribeiro ressalta ainda que o aquecimento da demanda internacional por commodities está valorizando os preços dos produtos básicos, contribuindo para seu avanço perante os manufaturados. Alta de preços "O crescimento das exportações dos básicos ocorre pelos ganhos nos preços. Isso é muito relevante para o Brasil e por si só já é uma vantagem", sustenta Ribeiro. De acordo com o MDIC, houve aumento na receita obtida pelos exportadores no acumulado de janeiro a outubro, em relação ao mesmo período do ano passado, de milho em grão (313,6%), de carne de frango (43,7%), de fumo em folhas (26,1%), de farelo de soja (23,7%), de petróleo bruto (20,1%), de café em grão (18,2%), de minério de ferro (17,3%), de soja em grão (16,7%) e de carne bovina (14,7%). Por outro lado, entre os manufaturados, houve retração no faturamento nas vendas externas de automóveis de passageiros (-0,2%), de motores para automóveis (-11,4%), de óleos combustíveis (-6,2%), de aparelhos transmissores ou receptores (-26,9%) e de açúcar refinado (-0,9%). O dirigente da AEB destaca que, em relação à quantidade exportada, a queda dos manufaturados é ainda maior. "Nos manufaturados há claramente uma queda na quantidade exportada. Em alguns casos só do valor exportado, mas a maioria tem a quantidade exportada menor", explica Castro. Entre janeiro e setembro na comparação com o mesmo intervalo de 2006, sete dos dez itens com maior participação no volume exportado de manufaturados apresentaram queda: automóveis de passageiros (-9,1%), partes e peças para veículos automotores e tratores (-1,3%), produtos laminados planos de ferro ou aço (-15,9%), motores para automóveis e suas partes (-12,9%), aparelhos transmissores ou receptores (-37,4%), óleos combustíveis (-21,3%), calçados (-4,4%). Efeitos conjunturais Na avaliação de Ribeiro, porém, o Brasil não está retrocedendo e voltando a ser um exportador de básicos, como nos anos 80. "São os efeitos conjunturais, como a demanda internacional por commodities, o alto preço do petróleo e a mudança estrutural da pauta brasileira, que determinam o avanço dos básicos", diz ele, acrescentando que a perda da participação dos manufaturados, mesmo com o dólar valorizado, se manteria em virtude da "forte alta dos preços das commodities". O economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Edgard Pereira, salienta que a tendência é de que os manufaturados percam cada vez mais participação no total exportado pelo País. "Isso é preocupante porque não há precedente de nenhum grande país em extensão e população que tenha crescido e se desenvolvido sem uma base de bens manufaturados", explica Pereira, lembrando que o superávit da balança comercial está sendo sustentando pela valorização dos preços dos produtos básicos.

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