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Exportação volta a ganhar relevância para montadoras

De janeiro a julho, empresas venderam ao exterior 22% de todos os veículos fabricados no País, o maior volume registrado desde 2007

Por André Ítalo Rocha , SÃO PAULOGabriela Lara e PORTO ALEGRE
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Com a baixa demanda por veículos no Brasil, as exportações das montadoras passaram a ter, em 2016, uma importância que não se via há nove anos. De todos os carros, caminhões e ônibus fabricados de janeiro a julho, 22% foram enviados ao exterior – o maior nível desde 2007, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).

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As montadoras querem, agora, que as exportações se consolidem de vez como uma parte relevante da produção, de modo que o setor não fique dependente das oscilações do mercado interno. A volatilidade que preocupa, no momento, é a do câmbio, já que a recente valorização do real encarece o veículo no exterior. Executivos e analistas ponderam, no entanto, que a moeda brasileira continua mais desvalorizada do que há dois anos, quando o dólar operava abaixo de R$ 3.

Na década passada, o setor até que conseguiu emplacar cinco anos seguidos com mais de 20% da produção destinada a exportações, entre 2003 e 2007. A participação começou a cair em 2008, quando estourou a crise financeira internacional e a demanda externa se enfraqueceu. Além disso, de 2007 até meados de 2012, o real passou por um período de sobrevalorização, com o dólar cotado abaixo de R$ 2, o que desestimulou as exportações.

O cenário contribuiu para que o Brasil, menos afetado pela crise e com o crédito em expansão, ganhasse mais espaço nos negócios das montadoras. Ali teve início o boom do consumo de carros no País, impulsionado também pelas baixas taxas de desemprego e pelo aumento da renda do brasileiro. Não é à toa que, em 2012, ano que a produção de veículos bateu recorde, apenas 13% das unidades tiveram o mercado externo como destino.

O menor nível, no entanto, ainda estava por vir: em 2014, as exportações caíram a 10% da produção. A diferença é que, naquele ano, as vendas domésticas já perdiam força, com uma queda de 7,15% em comparação com 2013. As montadoras concluíram, então, que era preciso aumentar a participação no mercado externo para compensar o enfraquecimento no mercado interno.

O resultado do esforço pode ser constatado já em 2015. Enquanto a produção teve queda de 22,9% e as vendas internas recuaram 26,6%, as exportações cresceram 24,9%. Com isso, o mercado externo passou a representar 17% do volume produzido. Em entrevista ao Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, na semana passada, o presidente da Anfavea, Antonio Megale, disse que o objetivo do setor é manter o fôlego internacional mesmo quando o consumo de veículos voltar a crescer no Brasil. “Novos mercados estão sendo abertos (no exterior), que são difíceis de se conquistar, e, uma vez conquistados, esperamos mantê-los de forma perene”, declarou Megale. “O mercado interno vai se recuperar de forma gradual, mas é importante que a gente se mantenha forte na exportação”, disse.

Competitividade. Na avaliação do economista Fábio Silveira, sócio-diretor da consultoria MacroSector, a desvalorização experimentada pelo real em 2015 e no primeiro semestre de 2016 foi o fator que mais contribuiu para o crescimento da exportação de veículos. “As montadoras só fazem esse esforço (de exportar mais) se o câmbio está favorável”, disse. “E apesar da valorização do real vista nos últimos três meses, as condições de competitividade no mercado internacional ainda são melhores que as de 2014.”

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Megale, da Anfavea, tem visão semelhante. “O câmbio é um ponto de atenção, mas ainda acreditamos que o dólar, no nível em que está hoje (próximo de R$ 3,20), ainda nos permite exportar de forma importante”, afirmou. Para o presidente da Mercedes-Benz no Brasil, Philipp Schiemer, o problema não é a recente valorização do real, mas a falta de previsibilidade. “Qualquer câmbio tem vantagens e desvantagens. O que a indústria precisa é de uma estabilidade”, disse.

Quando o real se valoriza em relação ao dólar, as montadoras ganham na importação de peças, o que ameniza ou até neutraliza os efeitos negativos na exportação. De olho nisso, o presidente da MAN Latin America, Roberto Cortes, garante que a apreciação da moeda brasileira não atrapalha seus planos de triplicar as exportações de caminhões e ônibus nos próximos anos. “Se o câmbio prejudica de um lado, a gente ganha do outro”, disse ao Broadcast.

Além disso, a assinatura de acordos comerciais com outros países tem favorecido o avanço das exportações. Nos últimos 12 meses, foram firmados acordos de livre comércio com Peru e Uruguai. Com a Colômbia, ficou acertado um aumento gradual de cotas livres de impostos até 2018. E com a Argentina foi renovado por mais quatro anos um entendimento que prevê que, para cada dólar que a Argentina exporta ao Brasil em autopeças e veículos, sem incidência de impostos, pode importar 1,5 dólar em produtos brasileiros.