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Exportações argentinas não reagem com desvalorização

Por Agencia Estado
Atualização:

Ao contrário do que se esperava, as exportações argentinas não aumentaram com a desvalorização, pelo contrário. Apesar do país continuar com superávit, de janeiro até maio as exportações caíram 6% em relação ao mesmo período do ano passado. A previsão da Câmara de Exportadores da República Argentina (Cera) é de uma queda de 5% para 2002. O presidente da Cera, Enrique Mantilla, disse à Agência Estado que o principal problema vivido pelo setor exportador é o da falta de financiamento. "Está tudo cortado. Não existe praticamente nada, somente as multinacionais que conseguem dinheiro de seus países. Mas os exportadores argentinos não possuem hoje nenhum tipo de pré-financiamento", reclamou. Segundo Mantilla, se não fosse a falta de crédito, a indústria argentina já estaria se recuperando e se tornando mais competitiva. No entanto, ele reconhece que a conversibilidade era muito pior para o setor. Mantilla revela que a Cera elaborou uma proposta que será levada ao presidente Eduardo Duhalde, que prevê a utilização do mercado de capitais através de um sistema jurídico chamado "fideicomisso", que administra os fundos "sem ser dono do mesmo". Ele explica que a idéia é "pegar todas as cartas de crédito do setor, colocar neste ?fideicomisso? para que se possa emitir títulos na Bolsa de Comércio com um prazo de 90 dias e dar maior proteção e segurança, conseguindo assim os créditos". Mantilla disse que a medida deverá ser adotada através de decreto presidencial mas antes disso tem que ser aprovada pelo Banco Central e pela Comissão Nacional de Valores (CNV). "Com isso, a Bolsa de Comércio poderá operar o Indol (índice de futuro do dólar) e dar maiores garantias ao negócio". Conforme seus cálculos, isso ocorrerá em setembro. Diferencial O empresário se queixa da situação mas admite que apesar da recessão na Argentina, existem alguns setores que estão conseguindo driblar a grave crise instalada no país há mais de quatro anos. Não que estejam livres dos nocivos efeitos da recessão, do default, da falta de crédito, das dívidas não cobradas e não pagas. Porém, os setores ligados ao campo, manufaturas industriais e minério estão gerando trabalho e dinheiro porque acabaram sendo beneficiados pela desvalorização, já que estão podendo competir e exportar mais. São pelo menos 12 setores nesta situação: software; vestuário; petróleo e minérios; exportações industriais; pesca; vinhos; couro; mel; frigorífico; supermercados; grãos e eletrodomésticos. Os programadores de software duplicaram suas projeções para exportações no ano que vem de US$ 100 milhões para US$ 200 milhões de dólares. A confecção de roupas ficou mais barata que a da China, Indonésia e Índia, que invadiam o mercado argentino. As petroleiras reclamam da desvalorização do peso devido às suas altas dívidas e das taxações às exportações. Porém, as exportações do petróleo bruto é cotado em dólar, com aumento, enquanto que a produção é em peso. O setor de minério fatura com a venda de ouro, prata, lítio e alumínio. No ramo de exportações industriais estão as empresas que já exportavam metade de suas produções antes da mudança do regime cambial, como tubos para perfuração petroleira; lâminas de alumínio, turbinas, dentre outros. A partir da desvalorização, passaram a exportar mais que a metade. Já a pesca gera divisas de US$ 850 milhões anuais e os custos de operação continuam em pesos para esta atividade que destina nada menos que 90% de sua produção ao exterior. Os vinhos argentinos que já vinham conquistando o mercado há cerca de cinco anos devido aos investimentos em qualidade, principalmente dos Malbec, agora estão mais baratos e sendo exportados para supermercados da Europa e do Brasil. Os curtumes exportam US$ 800 milhões de dólares por ano e o valor da matéria prima continua em pesos, além de que o couro não pode ser exportado sem curtir. A Argentina é o primeiro exportador mundial de mel e o preço no atacado disparou de 0,92 centavos de pesos para 4,70 pesos, desde dezembro de 2001. Os exportadores aumentaram as vendas somente 2% mas faturam 25% a mais, em dólares. Até o último levantamento do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos (Indec), o setor já tinha faturado US$ 50 milhões de dólares. Os frigoríficos também continuam gastando em pesos e recebendo em dólares, ou seja, três vezes mais do que o custo de produção. Embora o consumo tenha caído, os supermercados continuam faturando mesmo com o contínuo aumento de preços. Um exemplo disso, é uma das redes de supermercados que teve 40 de suas 144 lojas destruídas com os saques do final do ano passado. Com um investimento de US$ 7 milhões de dólares para reconstruir as lojas e repor mercadoria, além de uma renegociação com os credores, a rede já pagou quase a metade do que devia e começou a recuperar o prejuízo em apenas sete meses. No campo, a situação é contraditória. Ao mesmo tempo que tem produtores que perderam tudo o que tinha, outros que não param de fazer contas para ver se conseguem sair do buraco. E existem aqueles que estão se dando bem. Os exportadores de trigo, milho, soja e girassol são responsáveis por US$ 8,5 bilhões de exportações anuais. Segundo a secretaria de Agricultura, a rentabilidade de uma plantação de 300 hectares no norte da província de Buenos Aires, por exemplo, subiu de 3,8% para 6,7% entre março de 2001 a maio de 2002. O caso dos eletrodomésticos é diferente. Estes tiveram seus preços triplicados e quem ganhou com isso foram os negócios de consertos gerais. O argentino não possuía o hábito de consertar um eletrodoméstico estragado ou queimado, era mais fácil e "barato", pensavam, comprar um novo. Agora, os serviços de consertos estão lotados e muitas lojas que já estavam por fechar suas portas retomaram o negócio com toda força. Leia o especial

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